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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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Cidade passa de exemplo a problema

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO GABRIEL (RS)

O município gaúcho de São Gabriel, onde o governo federal realizou a desapropriação que considera o modelo dos seus planos de reforma agrária, tornou-se um emblema dos conflitos agrários brasileiros.
Simultaneamente, uma marcha de sem-terra e outra de proprietários rurais circundam a região, mantendo o fantasma de um confronto. Os sem-terra defendem a desapropriação de 13,2 mil hectares estabelecida pela União, mas suspensa pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Na última quinta, diante da chance de haver uma solução política para o impasse, o MST estabeleceu uma trégua: parou em Santa Maria, a cerca de 180 km de São Gabriel. Os proprietários rurais, no mesmo dia, fizeram uma concentração para seguir em sua cavalgada.
Nos últimos dias, houve ameaças de morte à vereadora Sandra Xarão (PT) e a distribuição de panfletos apócrifos por São Gabriel com sugestões do emprego de métodos como incêndio de acampamentos, envenenamento e reação armada da população contra os sem-terra, definidos como ""escória" e "ratos". Máquinas da prefeitura abriram uma vala que a oposição diz ser uma trincheira -o prefeito Rossano Dotto Gonçalves (PDT) nega.
A desapropriação, questionada pelo proprietário na Justiça, abrigaria 587 famílias. O MST só espera uma decisão do STF para acelerar o passo até o local.
O cotidiano da cidade, no entanto, não sofreu alterações com a tensão no campo.
A Agência Folha acompanhou as duas mobilizações. Pelo lado dos sem-terra, das 800 pessoas que marcham, 170 são crianças; 130, mulheres. Ao lado dos produtores, muitos deles a cavalo, estão também mulheres e filhos.
De armas, constatam-se apenas instrumentos do trabalho no campo, como foices e facões, nas mãos de sem-terra e facões nas bombachas dos produtores.
"Isso é um símbolo, não vamos atingir ninguém com foices", diz o sem-terra Euclides Freitas, 26.

Permissividade
Da parte dos proprietários rurais, a caminhada, iniciada às 13h de sexta-feira, após rigorosa revista feita por 80 policiais militares à procura de armas, tem prazo determinado de três dias. Reúne mil pessoas, com cartazes dizendo "Fora MST" e "Esta cidade tem dono". Os manifestantes circulam, na maioria, a cavalo.
"Não adianta encher fazendas com gente que não sabe trabalhar no campo", critica o presidente do Sindicato Rural, José Francisco Costa. Os proprietários temem o que definem como a permissividade de um governo petista -agora, em nível federal. No governo do ministro Olívio Dutra (Cidades) no Estado, houve um aumento no número de invasões.


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