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Cidade passa de exemplo a problema
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO GABRIEL (RS)
O município gaúcho de São Gabriel, onde o governo federal realizou a desapropriação que considera o modelo dos seus planos de
reforma agrária, tornou-se um
emblema dos conflitos agrários
brasileiros.
Simultaneamente, uma marcha
de sem-terra e outra de proprietários rurais circundam a região,
mantendo o fantasma de um confronto. Os sem-terra defendem a
desapropriação de 13,2 mil hectares estabelecida pela União, mas
suspensa pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Na última quinta, diante da
chance de haver uma solução política para o impasse, o MST estabeleceu uma trégua: parou em Santa Maria, a cerca de 180 km de
São Gabriel. Os proprietários rurais, no mesmo dia, fizeram uma
concentração para seguir em sua cavalgada.
Nos últimos dias, houve ameaças de morte à vereadora Sandra
Xarão (PT) e a distribuição de panfletos apócrifos por São Gabriel com sugestões do emprego de métodos como incêndio de
acampamentos, envenenamento e reação armada da população
contra os sem-terra, definidos como ""escória" e "ratos". Máquinas
da prefeitura abriram uma vala
que a oposição diz ser uma trincheira -o prefeito Rossano Dotto Gonçalves (PDT) nega.
A desapropriação, questionada
pelo proprietário na Justiça, abrigaria 587 famílias. O MST só espera uma decisão do STF para acelerar o passo até o local.
O cotidiano da cidade, no entanto, não sofreu alterações com a
tensão no campo.
A Agência Folha acompanhou
as duas mobilizações. Pelo lado
dos sem-terra, das 800 pessoas
que marcham, 170 são crianças;
130, mulheres. Ao lado dos produtores, muitos deles a cavalo, estão também mulheres e filhos.
De armas, constatam-se apenas
instrumentos do trabalho no
campo, como foices e facões, nas
mãos de sem-terra e facões nas
bombachas dos produtores.
"Isso é um símbolo, não vamos
atingir ninguém com foices", diz
o sem-terra Euclides Freitas, 26.
Permissividade
Da parte dos proprietários rurais, a caminhada, iniciada às 13h
de sexta-feira, após rigorosa revista feita por 80 policiais militares à
procura de armas, tem prazo determinado de três dias. Reúne mil
pessoas, com cartazes dizendo
"Fora MST" e "Esta cidade tem
dono". Os manifestantes circulam, na maioria, a cavalo.
"Não adianta encher fazendas
com gente que não sabe trabalhar
no campo", critica o presidente
do Sindicato Rural, José Francisco
Costa. Os proprietários temem o
que definem como a permissividade de um governo petista
-agora, em nível federal. No governo do ministro Olívio Dutra
(Cidades) no Estado, houve um
aumento no número de invasões.
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