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ELEIÇÕES 2008 / COLIGAÇÕES
Alianças municipais ignoram disputa entre Lula e oposição
Em 24 capitais, há coligação entre partidos da base do governo federal e adversários
"O Brasil é muito desigual; aqui é uma confusão só, não dá para entender, parece até incoerente", diz o candidato Luciano Castro (PR-RR)
RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO
SILVIO NAVARRO
DO PAINEL
As alianças firmadas pelos
partidos políticos para as eleições municipais de outubro ignoram, em sua maioria, a correlação de forças entre o governo Luiz Inácio Lula da Silva e as
três grandes siglas que lhe fazem oposição no plano federal
-PSDB, DEM e PPS. Das 26 capitais do país, em 24 há coligação entre "lulistas" e adversários -as exceções são Vitória
(ES) e Florianópolis (SC).
A Folha levantou os acertos
já firmados e aqueles que ainda
estão em fase final de negociação -as convenções terminam
amanhã- nas cem maiores cidades brasileiras. Em regra,
prevalecem os arranjos locais.
A tendência é que as convenções confirmem o embaralhamento entre governistas e oposição em pelo menos 80% dos
cem maiores municípios.
"O Brasil é muito desigual. Se
fosse na Holanda, aí as coligações dos distritos seriam as
mesmas nacionais. Aqui é uma
confusão só, não dá para entender, parece até incoerente", diz
o deputado federal Luciano
Castro (PR-RR).
Durante a semana, ele passa
a maior parte do tempo em embate com DEM, PSDB e PPS, na
Câmara dos Deputados, onde
lidera uma das bancadas mais
governistas de Brasília. Quando volta a Boa Vista, entretanto, Castro é o candidato à prefeitura da coligação que inclui
DEM, PSDB e PPS.
"Mas aqui eu digo: "Não fale
mal do Lula perto de mim, que
eu não gosto"."
Em pelo menos quatro capitais o PT de Lula vai às urnas
aliado a tucanos, democratas
ou ao PPS: Aracaju, Manaus,
Porto Velho e João Pessoa.
Além disso, em Belo Horizonte
se aliará formal ou informalmente ao candidato de Aécio
Neves (PSDB). Fora das capitais, há dobradinhas entre os
petistas e a oposição nas grandes cidades.
"Se todas as alianças regionais são diferentes do plano
nacional, isso deveria ser ainda
mais forte em Belo Horizonte.
Só mostra que não se ouviu o
que o povo estava pedindo",
afirmou o presidente do PSDB,
senador Sérgio Guerra (PE).
Em São Vicente, a 20ª maior
cidade de São Paulo, o PSB lidera uma coligação que inclui
praticamente todos os partidos
do município, incluindo o PT, o
PMDB, o PSDB, o DEM e o PPS
-a oposição se restringe a uma
candidatura do nanico PMN.
"Noto um clima no país de
que as pessoas querem é uma
grande união das forças políticas em benefício do país. É um
equívoco achar que a boa política consiste, necessariamente,
em haver lados opostos. Não
sei quem disse aquela frase de
que toda unanimidade é burra,
mas eu acho que a frase é que é
burra. A unanimidade é boa",
disse o presidente do PSB-SP,
Márcio França, se referindo à
frase do escritor e jornalista
Nelson Rodrigues (1912-1980).
Segundo ele -que já foi prefeito de São Vicente por dois
mandatos consecutivos-, a
aliança de governo e oposição
em sua cidade rendeu generosas verbas tanto dos cofres federais quanto dos estaduais.
Para o cientista político Carlos Ranulfo Melo, da UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais), a coalizão que sustenta o governo Lula no Congresso "é tão grande que perde
parâmetros". "É um bloco que
tem de tudo, esquerda e direita,
e aonde cabe tudo", afirma.
As coligações pelo país mostram também que o chamado
bloquinho de esquerda -PC do
B, PSB e PDT-, montado em
2007, não resistiu ao seu primeiro teste de fogo.
Patrocinado, entre outros,
pelo candidato a vice na chapa
de Marta Suplicy (PT-SP), o
deputado federal Aldo Rebelo
(PC do B), o bloquinho surgiu
em Brasília com o objetivo de
se tornar uma força política similar aos blocos que dominam
a cena nacional (PT, de um lado, e PSDB e DEM, de outro).
Das 26 capitais, apenas em
10 o bloquinho deve sair unido,
mesmo assim só em duas é cabeça de chapa -Manaus e Aracaju. Nas outras oito, continua
satélite de candidaturas majoritárias do PT.
"O bloco não fracassou. Ele
iniciou o processo de criação de
seu espaço político, e isso não
se dá sem dificuldade. Em São
Paulo, o bloco marchou unido e
tem peso significativo na candidatura da Marta. Dessa forma, se prepara para desempenhar um papel mais importante em 2010", afirmou Aldo.
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