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GÊNERO PETISTA
Campanha de feministas quer acabar com a generalização; gramáticos se opõem à "moda"
Lula agora usa "todos e todas" em discurso
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Abandonaram a gramática no
governo petista. Ou reinventaram as regras do português, prefere dizer a ministra Nilcéa Freire
(Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres) sobre uma das
marcas impressas nos discursos
de autoridades. Sob Luiz Inácio
Lula da Silva, já não basta dizer
apenas cidadãos ou companheiros para se dirigir aos homens e
às mulheres da platéia. A moda
agora é dizer "todos e todas".
"Estivemos [as mulheres] invisíveis na denominação genérica
durante séculos. Essa generalização embute um conceito, como
se quem contasse na sociedade,
na família, no espetáculo fosse
apenas o homem", justifica Nilcéa, que vê no cuidado com a linguagem um significado político
importante. "A incorporação do
vocabulário está no automático.
A maioria dos ministros se refere
especificamente às mulheres."
Nilcéa não está só na cruzada,
tem o apoio do principal redator
de discursos de Lula, o secretário-geral Luiz Dulci, um ex-professor de língua e literatura. Nas
viagens pelo país, Dulci ouviu a
reivindicação formal do movimento de mulheres contra o uso
de palavras masculinas para tratar de ambos os sexos. Aderiu.
"A regra gramatical invisibiliza
a mulher. Entendemos que a palavra todos, por exemplo, não
nos inclui", diz Jacira Melo, do
Instituto Patrícia Galvão, uma
organização feminista que trabalha com comunicação.
O apelo foi ouvido primeiro
pelo ex-presidente José Sarney
(1985-90), cujos discursos começavam pelo famoso "brasileiros e
brasileiras". Isso foi antes de Sarney virar membro da Academia
Brasileira de Letras.
Para os puristas, "brasileiros e
brasileiras" e "todos e todas" não
passam de redundância. Como o
português é uma língua desprovida do gênero neutro, o gênero
masculino ocupa esse papel. Seria uma característica da língua,
mais do que um sinal de machismo notado por feministas.
Se os discursos quisessem mesmo dar mais atenção às mulheres
deveriam dizer "cidadãs e cidadãos", "brasileiras e brasileiros".
O resultado seria uma ênfase no
feminino e um respeito maior à
gramática. A radicalizar a moda
petista, preocupam-se alguns, o
Brasil teria de reescrever seus dicionários. Opções no feminino
não aparecem entre os verbetes.
Nem no plural. Seriam machistas
os dicionários?
Embora o reforço do gênero feminino não conste de nenhuma
norma oficial do governo, a Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica enviou, no ano
passado, ofício aos ministérios
para que a propaganda oficial
cuidasse de dar mais visibilidade
às mulheres.
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