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JANIO DE FREITAS
Penúltimos sinais
A uma semana das eleições e
a cinco dias do encerramento
da campanha, parecem já politicamente superados os centímetros que, na sondagem eleitorado, ainda separam Luiz Inácio
Lula da Silva da vitória no primeiro turno. Mesmo sem considerar o voto útil espontâneo, que
tende a se manifestar nas vésperas das votações, a adesão de
peemedebistas e pefelistas, nos
últimos dias, emite sinais de volume muito maior do que o noticiário pôde captar.
Sinal também expressivo é o
emitido pelos comandos das
campanhas de José Serra e Ciro
Gomes. As divergências agudas
entre os políticos e os marqueteiros de Serra não se contêm mais
no comando da campanha, que
de comando, mesmo, nada teve.
Por menos que desejem fazê-lo,
por motivos óbvios, as críticas
transmitem a idéia de situação
irremediável, diante da qual a
cada um convém lançar logo as
culpas para longe.
Mas os chamados líderes do
PSDB e do PMDB não podem
isentar-se de responsabilidade
alguma, caso José Serra não chegue ao segundo turno. Michel
Temer, Geddell Vieira Lima &
cia. não se moveram, jamais, pela candidatura que impuseram
ao PMDB. José Aníbal, Alberto
Goldman e outros que no PSDB
agora acusam a tática da agressividade, aplicada por Nizan
Guanaes à propaganda de Serra,
foram seus defensores e incentivadores até há pouco. Inclusive
publicamente, com entrevistas e
comentários que ficaram impressos e gravados.
O próprio Nizan Guanaes antecipa-se em explicações públicas
que, se poderiam lhe convir, e
não chegam a fazê-lo, assumem
um ar de balanço em nada conveniente ao candidato. Soa até
grotesca a afirmação de que Serra, ele sim, é a vítima dos ataques
na campanha, desferidos pelos
demais candidatos. A virulência
foi adotada por Nizan Guanaes,
à sua maneira. Se não resultou e
se até reverteu contra Serra, é o
velho desentendimento entre o
mau feitiço e os feiticeiros.
O presente
Quando o governo deu a primeira indicação de que pagaria
integralmente os títulos cambias
prestes a vencer, o dólar estava
abaixo de R$ 2,80, apesar da especulação que explorava a liderança da candidatura Lula da
Silva. Bancos e outros detentores
daqueles títulos começaram a
forçar a elevação do dólar: os títulos cambiais são pagos pelo governo com base no valor do dólar
na véspera do resgate.
A puxada do dólar elevou-o a
R$ 3,76 e, só por esse acréscimo
desde o desnecessário aviso de
resgate integral, ou seja, sem
prorrogação total ou parcial, o
governo aumentou em mais de
R$ 1 bilhão o lucro dos detentores
de títulos vincendos na semana
passada.
Na terça-feira vencem mais
"papagaios" indexados ao dólar,
no montante de US$ 1,25 bilhão.
Mesmo com o comunicado de
que só 30% serão quitados, o dólar foi puxado na sexta-feira ao
valor recorde de R$ 3,88. Durante toda a semana, até faltava dólar.
Nos dias 17 e 23 de outubro
vencem mais US$ 3,62 bilhões e
US$ 1,52 bilhão de títulos corrigidos pelo dólar. Já se sabe o que
esperar, se o governo continuar
se omitindo nas providências devidas para identificar e reprimir
os puxadores do dólar -e das
tantas consequências desastrosas
para o país.
Diante disso, Pedro Malan diz
em Washington, a propósito da
elevação forçada do dólar no
Brasil, que "há muitos anos"
aprendeu serem "os mercados
dirigidos por uma combinação
de cobiça contagiosa, medo e ignorância".
Está definido o Brasil atual:
um país entregue à direção, sem
restrições governamentais, dos
"mercados" que o próprio ministro da Fazenda diz dirigidos pela
cobiça.
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