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NO PLANALTO
Futuro do Brasil depende
do eleitor indeciso
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os destinos do país encontram-se depositados nas
mãos de uma gente que não sabe
se toma café com açúcar ou com
adoçante. Gente que pode apostar no improvável, dando a vitória a Lula já no primeiro turno.
Mas que também pode jogar
suas fichas no impensável, escalando Garotinho para o segundo
tempo.
De acordo com o Datafolha, os
indecisos ainda somam algo como um terço do eleitorado. Há o
indeciso clássico. Do tipo que, na
dúvida entre o vinho tinto e o
branco, vai de água mineral
(com ou sem gás? hum...). Ainda
não se encantou por nenhum
presidenciável.
Há também o indeciso envergonhado. Simula firmeza. Mas
muda de candidato como quem
troca de camisa (começo pelo botão de cima ou pelo de baixo? hã
...). A um pesquisador, diz que
votará em fulano. A outro, assegura que optará por beltrano.
Apertado, admite que pode mudar de idéia até o dia da eleição.
Na vida de um indeciso, uma semana é uma eternidade.
Indeciso que se preza não abre
mão da propaganda eleitoral da
TV. Mas suas dúvidas só aumentam. A tia beata de tendência governista viu o Serra prometendo
mudanças e bateu três vezes na
madeira. O estudante cabeludo
descobriu que junto com o Lulinha da paz vem o Quércia. E
pensou em cortar os pulsos.
Tem o Ciro, o Garotinho. E o
Zé Maria, por que não? Mas eles
parecem, hum..., hã ..., tão decididos. Não têm dúvida sobre nada. Decididamente, não falam a
língua do indeciso.
O que faz com que o indeciso
exercite o seu direito à indecisão
é justamente o medo do travesseiro. Quem votou em FHC duas
vezes sabe que o Brasil mobilizado pelas certezas eleitorais pode
evoluir para o velho Brasil da desilusão. Um país de tirar o sono.
No fundo, o que falta ao indeciso é convencer-se de que o nome
do presidente é o que menos importa. O Brasil, convenhamos,
tem saída.
Basta que os fatos parem de
conspurcar as boas intenções.
Basta parar de confundir contramão com caminho.
Basta que as leis de mercado
passem a valer para todos.
Basta implementar um plano
capaz de distribuir a renda nacional, salvando os brasileiros
pobres, pretos e sem-culote, com
o apoio resoluto dos brasileiros
ricos, brancos e com pneuzinhos
na cintura.
Basta que o arcaico deixe de
envenenar o empreendimento
nacional.
Basta interromper o conluio
que une o Estado ao privilégio.
Basta que os conglomerados
industriais e financeiros parem
de perguntar o que o país pode
fazer por eles e comecem a bater
ponto nos guichês do fisco.
Basta obter a colaboração desinteressada dos partidos políticos.
Basta descobrir que não sai
coelho de um mato que tem Sarney.
Basta eliminar os vermes que
dão ao novo uma aparência de
cadáver.
Basta não contaminar o presente com práticas de um passado que mata o futuro.
Basta emudecer o tilintar de
verbas e cargos nos corredores do
Congresso.
Basta levar à prisão uma penca
de ladrões notórios alojados em
nichos de um Estado à míngua.
Basta provar que os Poderes
formais -Executivo, Legislativo
e Judiciário- reúnem forças para derrotar o poder informal do
dinheiro.
Basta parar de chamar o cassino com roleta viciada de Bolsa
de Valores.
Basta arranhar o quadro produzido pelos artistas do mercado
financeiro e revelar o esboço calhorda que se esconde por baixo
da pintura surrealista.
Basta parar de confundir muros altos e guaritas armadas com
paraísos urbanos.
Basta que a polícia pare de assaltar os nossos meliantes.
Basta demonstrar que Fernandinho Beira-Mar pode ficar atrás
das grades de Bangu 1 sem levar
um celular à orelha.
Basta começar a desconfiar de
Deus, que é brasileiro, e prestar
mais atenção no demônio, que é
americano e se diverte fundando
uma nova religião hegemônica.
Basta instalar nos banheiros
do Alvorada espelhos que reflitam a face ridícula sob a maquiagem do narciso.
Basta constatar que Brasília é
um cemitério de super-heróis.
Basta desestimular no novo
presidente a crença de que governa o governo.
Basta que o eleito, qual Edgar
Allan Poe, prefira o diálogo com
corvos à conversa fiada com papagaios.
Mesmo que tudo dê errado,
ainda restará a saída de emergência. Basta convencer a malta
a abandonar a utopia burguesa
de querer comer três vezes ao dia.
O indeciso não deve esquecer,
de resto, que, na guerra democrática, o voto é a sua única arma. Se a dúvida perdurar até o
fatídico 6 de outubro, basta se
entregar à roleta eleitoral.
Feche os olhos, leve o dedo às
teclas da urna explosiva, reze e
dispare um número ao acaso.
Antes o equívoco aleatório do
que o erro com absoluta certeza.
Melhor morrer experimentando
do que viver sem arriscar. Será?
Do baú da filantropia: o Ministério da Justiça cassou o certificado de utilidade pública federal
do ITE (Instituto Toledo de Ensino). Trata-se, conforme revelado
aqui, de uma usina de torrefação
de verbas assistenciais instalada
em Bauru (SP). É o primeiro passo rumo à perda do certificado filantrópico da Previdência, um
documento que ainda mantém a
escola no maravilhoso mundo
da isenção de tributos.
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