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Filho de assentado diz que terreno está vazio
DA AGÊNCIA FOLHA
DO PAINEL
"Desde que meu pai morreu
[em 1992], nós pedimos ao Incra
para transferir o lote para o nome
da minha mãe, e agora você vem
me dizer que ele foi assentado em
1999. Ninguém conseguiria entender isso, pois o terreno está lá,
vazio."
Assim reagiu Adelar Jesus de
Alcanter, 30, ao ser informado pela reportagem da Folha de que o
nome de seu pai, Valeriano Jesus
de Alcanter, morto em 1992, aos
60 anos de idade, foi incluído sete
anos depois na lista de novos assentados do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Confirmando o que consta no
atestado de óbito, Adelar disse
que seu pai morreu enquanto trabalhava no próprio lote. "Foi uma
fatalidade. Uma árvore que ele
acabara de cortar caiu em sua cabeça. Fiquei sabendo três dias depois e cheguei à cidade depois de
duas semanas", contou Adelar,
que na época estudava em Manaus, capital do Amazonas.
Segundo Adelar, que atualmente trabalha em uma repartição pública na cidade de Apuí (AM), sua
família não recebeu nenhum tipo
de crédito do governo nos últimos
anos. "Em 1996, eu trouxe a minha mãe [Terezinha Fagundes Alcanter, hoje com 67 anos] para viver na zona urbana da cidade. Tive de ajudá-la a sobreviver", afirmou Adelar.
De acordo com ele, sua família
-os pais e outros três irmãos-
deixou o município de Francisco
Beltrão (PR) em setembro de 1983
rumo a Apuí, onde começava a
ser implantado o projeto de assentamento Rio Juma. A viagem,
com ônibus fretado pelo governo
federal, durou 12 dias.
Valeriano, o pai, nasceu também no Sul, no município catarinense de Alto Bela Vista.
"Nos primeiros anos, só lembro
de termos recebido algum tipo de
auxílio na alimentação e nada
mais", declarou Adelar. Segundo
ele, o posto de saúde mais próximo ficava a 420 km do local, na cidade de Humaitá, e os problemas
de saúde eram frequentes.
"Quem ficava doente tinha de
pegar um ônibus que saía apenas
uma vez por semana e demorava
três dias para chegar à cidade."
Hoje, no assentamento, vivem
cerca de 3.000 famílias, de acordo
com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apuí. Muito abaixo
das 5.329 famílias que o governo
federal diz ter assentado em 1999.
"Epidemias de malária afastaram
muita gente daqui", afirmou Euclides Motter, presidente do sindicato.
(EDS e RV)
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