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"Bush vai ligar", diz Hrinak a Lula
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Donna Hrinak, embaixadora
dos Estados Unidos no Brasil, sugeriu a Luiz Inácio Lula da Silva
que tenha à mão um intérprete,
na noite da eleição, para, se ganhar, poder conversar com George W. Bush, presidente dos EUA.
Hrinak disse a Lula que Bush vai
telefonar para quem já seria, nessa hipótese, o presidente eleito do
Brasil, para cumprimentá-lo pela
vitória, como é da praxe diplomática, e também para manifestar o
desejo de que Brasil e EUA mantenham as melhores relações.
A sugestão de Hrinak foi feita na
sexta-feira quando ela e Lula se
encontraram em evento da Câmara Americana de Comércio.
Na prática, trata-se de desdobramento da sugestão feita dias antes
pelo empresário Roberto Teixeira
da Costa (banco Sul América e
presidente do escritório paulista
do Cebri, Centro Brasileiro de Relações Internacionais).
Teixeira da Costa, em seminário
sobre relações Brasil/EUA, dissera que seria da maior importância
que Bush telefonasse o mais rápido possível para o ganhador da
eleição no Brasil, para sinalizar o
desejo de manter com ele o melhor relacionamento possível.
Um estudo recente do Cebri diz
que os dois países vivem o melhor
momento em suas relações, apesar do contencioso comercial entre eles. Mas o relacionamento
pessoal entre seus presidentes é,
ao contrário, o pior possível.
Fernando Henrique Cardoso
não se cansa de criticar o unilateralismo do governo Bush em tons
tão pesados que chegou a equipará-lo ao terrorismo, em discurso
há um ano na Assembléia Nacional francesa. Nunca foi perdoado
pela administração Bush.
Um governo Lula, que também
critica o que considera belicismo
exagerado de Bush, teria tudo para envenenar mais ainda as relações bilaterais, mas é visível o esforço de Donna Hrinak para evitar essa deterioração. Depois da
fala de Teixeira da Costa, a embaixadora assegurou ao empresário:
"O telefonema será dado".
Embora faça parte da praxe diplomática, Bush não telefonou,
no domingo passado, para Gerhard Schroeder, reeleito primeiro-ministro da Alemanha, por
causa de suas críticas à política
norte-americana para o Iraque.
O recado de Hrinak, portanto,
reforça sua disposição de eliminar
arestas no relacionamento com
um eventual governo petista.
O PT retribui o esforço com sucessivos elogios à embaixadora,
elogios que ecoam na comunidade acadêmica que acompanha a
América Latina e as relações de
seus países com os EUA.
O historiador britânico Kenneth Maxwell, responsável por
América Latina no Council on Foreign Relations de Nova York,
disse à Folha que Hrinak é responsável por melhorar o nível de
informações sobre o Brasil em
Washington, por ser "respeitada
em Brasília e ouvida na Casa
Branca". Se Hrinak é ouvida na
Casa Branca, sua sugestão a Lula
de ter um intérprete a mão significa que, de fato, Bush telefonará
para o petista se ele ganhar.
Telefonemas à parte, a relação
entre Brasil e EUA, em um eventual governo Lula, começará a ser
testado antes da posse.
No início de novembro, em
Quito, realiza-se a reunião ministerial da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) na qual a
presidência do processo negociador será transferida para os dois
países conjuntamente.
EUA e Brasil comandarão o
processo até o final, previsto para
2005. Como presidentes, têm poder para acelerá-lo, como os EUA
querem, ou retardá-lo, como preferem o PT e o atual governo.
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