MURILO FIUZA DE MELO
ENVIADO ESPECIAL A BELÉM

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, montou uma grande estrutura de massificação de sua candidatura entre os evangélicos para tentar ultrapassar José Serra (PSDB) e chegar ao segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Há 15 dias, 500 pastores evangélicos em todo o Brasil estão fazendo o que o comando da campanha chama de "multiplicação dos votos". O objetivo é fazer com que Garotinho consiga até 6 de outubro conquistar 80% dos votos dos evangélicos, que, segundo assessores, chegam a 20 milhões de eleitores. A avaliação é de que, ao atingir a meta, Garotinho chegará ao segundo turno.
Pela estratégia, cada pastor, chamado de líder-multiplicador, tem a missão de conquistar 40 eleitores para Garotinho. Os novos "convertidos", por sua vez, recebem a mesma missão, levando à "multiplicação" desejada.
Garotinho também faz uma divulgação intensa para atrair novos multiplicadores. Desde a semana passada, em entrevistas e discursos usa uma linguagem cifrada, direcionada aos evangélicos, em que a palavra multiplicador é citada. Assim como em Teresina anteontem, repassou a mensagem ontem em Belém.
"Estamos intensificando a campanha, pedindo ao nosso povo para multiplicar os votos. Temos certeza, pelas pesquisas que tivemos acesso, que a eleição será decidida por uma diferença boa a nosso favor", afirmou Garotinho.
A estratégia é coordenada pelo pastor e empresário J. Rubens, da igreja pentecostal Comunidade Vida Abundante, de Brasília. Segundo a coordenadora dos multiplicadores do Pará, Francisca Alves, Rubens já gastou R$ 130 mil em material de campanha.
Basicamente, o material consiste em um adesivo com o nome de Garotinho e o número 40 em tamanho maior do que o usado pelos militantes do PSB. "Esses adesivos são diferentes, justamente para diferenciar os multiplicadores dos militantes do PSB", afirmou o coordenador evangélico de Garotinho no Pará, pastor Sandro Rodrigues, da Igreja Quadrangular do Brasil.
Rodrigues diz que em 15 dias arregimentou 400 novos eleitores para Garotinho no Pará. No período, segundo Francisca, foram conquistados quase um milhão de votos no Estado com o trabalho dos multiplicadores. "Já estamos na terceira geração de multiplicadores", afirmou.
Garotinho foi recebido no aeroporto de Belém por 30 pastores. Rodrigues disse que os gastos com os atos em Belém, que incluíram o aluguel de um trio elétrico, foram pagos por evangélicos.
O ex-governador voltou a atacar Serra e Lula. Ele pediu que o petista explique os gastos de sua campanha. "Quem hoje tem que explicar a campanha mais rica da história do Brasil é o Lula, porque ninguém gastou tanto dinheiro como Lula. Eu, que viajei [todo] o Brasil, nunca vi tanto outdoor, tanta bandeira, tantos recursos."

Rosinha
Além do trabalho dos multiplicadores, Garotinho conta com uma arma caseira: a mulher, Rosinha Matheus, líder nas pesquisas eleitorais para o governo do Rio, que nesta reta final se transformará na principal atração do horário eleitoral do marido.
Rosinha, cujos recursos de campanha já foram direcionados à do marido, agora virá como cabo eleitoral, pedindo abertamente votos a Garotinho. A meta é conquistar o voto das mulheres. Pelo último Datafolha, Serra tem 20% na preferência das eleitoras -três pontos a mais que Garotinho.
Com a estratégia, o comando de campanha do socialista também busca reconquistar o eleitorado do Rio, onde, segundo o Ibope, apesar da liderança de Rosinha, o ex-governador perde de Lula na capital (38% contra 27%) e está empatado no interior - 31% (Lula) e 32% (Garotinho). O candidato do PSB só ganha na periferia -46% a 26%.



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