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JANIO DE FREITAS
Caça às mentiras
A desproporção entre a riqueza militar dos americanos e ingleses e a precariedade dos
iraquianos é descomunal. Mas se,
apesar disso, americanos e ingleses
estão exibindo ao mundo um vexame bélico, ainda há uma desmoralização maior que começa a
acometer seus chefes políticos e comandantes militares, entre os próprios propagandistas.
A autocensura de jornais e TVs
dos Estados Unidos e Reino Unido
está abalada por fendas que se tornaram mais expostas desde a entrevista de Bush e Blair, na quinta-feira. E se evidenciam sob a forma
de crescente relutância em compactuar com as desculpas para a
enrascada militar e engolir certas
mentiras óbvias.
Irritado com as perguntas que o
apertaram na coletiva ao lado de
Blair, Bush dirigiu um insulto aos
jornalistas, dizendo "não entender
por que insistem em perguntar
besteiras, como a duração da
guerra". Para quem endossou a
afirmação do seu principal comandante, no primeiro dia da
guerra, de que "em quatro ou cinco dias as forças da coalizão estarão em Bagdá", o assunto não é
mesmo agradável.
Ver as entrevistas dos chefes políticos e comandantes passou a ser
divertido, uma pequena compensação para os horrores das cenas
de cidades e pessoas bombardeadas. Mais do que entrevistas, são
uma competição de caça às mentiras.
No Fundo
A guerra já produziu um efeito
favorável ao governo Lula. O insucesso de americanos e ingleses concentrou as atenções e, com isso,
desviou-as da desastrada tentativa de votação da emenda constitucional sobre o sistema financeiro. Não só os partidos aliados do
governo não o seguiram, como no
PT se chocaram até os do mesmo
lado, caso de Antonio Palocci e José Genoino.
Estão dadas numerosas explicações para o sucedido. Mas, no fundo de todas (ou no Fundo), quem
procurar achará sempre a mesma
origem: a incompatibilidade entre
o que a candidatura Lula e ele
próprio representavam e, hoje, o
que é o governo Lula e o que exige
do PT e dos partidos aliados na
campanha.
No palavrório, é possível fazer
acomodações, com mínimos casos
recalcitrantes. Nas votações, a dócil despersonalização não é um
mal de todos.
Mínimo e máximo
Marcados ambos para amanhã,
dois eventos sem conexão aparente são duas faces do mesmo todo.
Durante o dia, uma reunião para
formular meios de acelerar o Fome Zero, para proporcionar uma
refeição mínima onde zero foi a
atenção dada aos que sofrem de
miséria. À noite, um grande jantar
(com convite) para detentores de
grandes fortunas, a propósito do
instituto que FHC lança, com o seu
nome, para glorificá-lo.
Eles
A Alemanha se opôs à guerra.
Mas no topo da guerra não faltam
os germânicos, de nascimento ou
de descendência: Rumsfeld, Miers,
Fleischer, Wolfowitz, este, o ideólogo, desde o governo de Bush pai,
da guerra ao Iraque por conveniências estratégico-econômicas.
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