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IMPRENSA
"O tom anti-Fome Zero se desgastou", diz relatório
Documento interno faz avaliação do desempenho do governo na mídia
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo avalia que venceu a
"queda de braço" com a mídia para emplacar o programa Fome
Zero. É o que se depreende de
avaliação da Secom (Secretaria de
Comunicação de Governo), órgão da Presidência da República
comandado por Luiz Gushiken.
A análise foi inserida, na última
quinta, no documento "Leitura
da Mídia". Feito em segredo, é
distribuído pela rede interna de
computadores do governo. Destina-se às assessorias de imprensa
dos demais órgãos do Executivo.
É a primeira vez que o conteúdo
do documento vem a público, para contrariedade do Planalto.
O "Leitura da Mídia" propõe-se
a analisar diariamente o conteúdo
dos jornais. É de responsabilidade
do jornalista Bernardo Kucinski,
funcionário da Secom. Trata o
noticiário com aspereza.
O texto de quinta diz que "argumentos cáusticos [contra o Fome
Zero] começaram a envelhecer, e
a oferta de novos "deslizes" caiu
substancialmente" nas páginas
dos jornais. Avalia que "o tom anti-Fome Zero se desgastou".
Segundo o documento, "aos
poucos, o governo impõe sua
agenda sobre o noticiário, o que
se traduz em mais centímetros de
coluna para aspectos substantivos" do Fome Zero.
A análise da Secom alfineta a
gestão de Fernando Henrique
Cardoso: "Enfim, a fome, a insegurança alimentar e a pobreza
-trágica herança deixada pelo
tucanato- emergem pautadas
pelo Fome Zero".
Sem dar nomes, insinua que colunistas estariam a serviço do tucanato. Analisa assim notícias sobre o suposto enfraquecimento
do ministro José Graziano, responsável pelo Fome Zero: "Há
dez dias o colunismo tucano faz
leasing de seu espaço para anunciar a substituição de Graziano".
Ao tratar das razões do suposto
arrefecimento das críticas, o texto
diz que a própria Secom "ajudou
o início da publicidade gratuita
[sobre o Fome Zero] veiculada
nas TVs". Sobre Lula, o texto diz:
"o que reverteu o foco e a ênfase
da mídia foi a intervenção política" do presidente da República.
A assessoria de imprensa da Secom informou que o texto não representa uma opinião da secretaria. Alegação que não condiz com
o cabeçalho do documento. Ali,
está escrito: "Um serviço da Secom, para uso interno dos comunicadores do governo".
O jornalista Bernardo Kucinski,
assessor direto de Luiz Gushiken,
disse que a análise "expressa uma
visão pessoal". Seu objetivo é "refletir sobre a mídia, sobre como a
mídia funciona, decodificar e
mostrar os mecanismos". Argumenta que a circulação do documento entre os assessores de imprensa do governo seria um "trabalho basicamente pedagógico".
Há cerca de um mês, o jornalista
Antonio Matiello foi demitido da
Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Alegou-se que, num
documento que também se propunha a analisar o noticiário, Matiello criticara o modo como o governo vinha tratando as agências
reguladoras na imprensa.
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