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OPERAÇÃO VAMPIRO
Empresários obtêm nomes de medicamentos antes de concorrentes
Gravação da PF revela acesso privilegiado a lista da Saúde
ANDRÉA MICHAEL
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Transcrições dos diálogos gravados pela Polícia Federal na investigação denominada Operação Vampiro, obtidas pela Folha,
revelam que empresários tiveram
acesso privilegiado a uma lista de
medicamentos que seriam comprados pelo Ministério da Saúde
para atender a vítimas das enchentes no início do ano. A compra foi realizada em caráter emergencial, com dispensa de licitação.
De acordo com as gravações,
em 5 de fevereiro, uma quinta-feira, Francisco Danúbio Honorato
ligou para Jaisler Jabour de Alvarenga e informou já ter em mãos
uma lista de 41 itens de medicamentos, que seriam alvo da compra do ministério. Ambos foram
presos no dia 19, acusados de fazer parte de esquema montado
para fraudar a compra de hemoderivados (medicamento usado
por hemofílicos, por exemplo).
Danúbio diz no diálogo captado
pela polícia que conseguiu a relação na Coordenadoria Geral de
Recursos Logísticos, então comandada por Luiz Cláudio Gomes da Silva, também preso na
operação e exonerado do cargo
com outros 24 funcionários.
Danúbio encaminha a lista de
medicamentos para Jabour por
fax. Em nova conversa, Jabour pede instruções: "Que faço com isso? Pego três cotações?". Os acertos seriam feitos pouco depois,
em reunião, em Brasília, da qual
também participaria o empresário Eduardo Passos Pedrosa.
Conforme a investigação da PF,
Silva -então homem de confiança do ministro Humberto Costa
(Saúde), que o nomeou para o
cargo em agosto de 2003- estava
temporariamente afastado porque havia passado por cirurgia.
Coordenando a compra de
emergência estaria Manoel Braga
Neto, da comissão de licitação do
ministério e primo de Silva, por
quem foi nomeado para o cargo.
Ele também está entre os 17 presos pela PF e foi exonerado.
Preparando-se para entrar no
negócio, no mesmo dia Jabour repassa as informações sobre a lista
de compras da Saúde para representantes das empresas Neo Química ("Álvaro") e União Química
("João Carlos"). No meio das tratativas, descobre que a lista vazara
também para a concorrência.
A compra, num total de R$ 5,1
milhões, realizada na primeira
quinzena de fevereiro, acabou fatiada entre 14 laboratórios, de
acordo com dados do Ministério
da Saúde. A PF e o Ministério Público Federal investigam se houve
favorecimento, pois as compras
de emergência, com dispensa de
licitação, constituem um dos focos de fraude na Saúde.
Auditoria interna, instaurada
por Humberto Costa para apurar
todos os contratos feitos na pasta
desde janeiro de 2003, também
investigará essa compra.
Diante do revés, Jabour arruma
explicações e faz mea culpa. Primeiro, afirma, ainda conversando
com João Carlos, que o "Brinco"
-uma referência a Silva- estava
viajando, por isso o comando da
operação ficou com Braga.
Além disso, Jabour fala de um
problema nos dias que antecederam o negócio: ele e Eduardo Passos, o "Dudu", tiveram que "apagar incêndios" no Rio de Janeiro.
Por "incêndio", leia-se a prisão do
"mula" -pessoa contratada para
levar dinheiro- Jesse James Ramalho, no aeroporto internacional do Rio, portando R$ 350 mil,
sendo R$ 200 mil destinados a Silva como propina.
Chegado o dia 9 de fevereiro,
confirmado o insucesso na empreitada tramada por Danúbio e
Jabour para beneficiar seus representados, um novo diálogo da dupla, registrado pela PF, mostra
que o procedimento do ministério teria permitido a compra por
preços baixos. Mas os lobistas se
preparam para uma nova etapa
de compras.
A investigação
Em março de 2003, quando denúncias de irregularidades na
Saúde já eram investigadas pelo
Ministério Público Federal havia
seis anos, o ministro da Saúde pediu à PF que apurasse uma denúncia de fraude em uma licitação internacional para a compra
de hemoderivados.
A PF consolidou elementos de
investigação reunidos até então
por procuradores e, por meio de
escutas com autorização judicial,
passou a monitorar os telefones
de empresários, lobistas e servidores. O trabalho foi transformado em um relatório de 331 páginas
da equipe de inteligência policial,
que sustentou o pedido de prisão
dos acusados.
Durante o tempo em que esteve
no ministério, Silva tinha conhecimento de que a investigação estava em curso.
Ao cumprir 42 mandados de
busca e apreensão na Operação
Vampiro, a PF encontrou, em diferentes lugares, R$ 1,5 milhão em
espécie. Os bens dos suspeitos estão indisponíveis.
Desse rol constam jóias, automóveis e pelo menos 20 imóveis e
nove embarcações -entre as
quais a lancha "Pimpinho", de
Jaisler Jabour de Alvarenga, avaliada em R$ 1,05 milhão.
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