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TRABALHO ESCRAVO
Delegado do trabalho sofre perseguição no noroeste de MG
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Uma equipe da DRT (Delegacia
Regional do Trabalho) de Minas
Gerais que viajava de Unaí a Paracatu foi perseguida por dois carros na MG-188 na noite de anteontem.
A equipe voltava de uma celebração religiosa que lembrou os
quatro meses da chacina de Unaí
na qual morreram três fiscais do
trabalho e um motorista.
Na Ranger que conduzia a equipe da DRT estavam o motorista,
duas funcionárias do órgão, o delegado do trabalho Carlos Calazans e um policial militar, que
lhes dava proteção.
Segundo Calazans, que no início da tarde de ontem retornava
para Belo Horizonte escoltado pela Polícia Rodoviária Estadual, os
carros que os seguiram, um Omega vinho e um Uno branco, só desistiram quando o PM colocou
uma arma para fora do veículo e
ameaçou atirar. Mas ainda assim
continuaram seguindo a distância, até a entrada de Paracatu.
O ministro Nilmário Miranda
(Direitos Humanos) foi avisado e
informou o fato ao seu colega da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
que acionou a Polícia Federal. Até
a tarde de ontem nenhum suspeito tinha sido localizado.
Calazans disse que a perseguição começou a cerca de 30 quilômetros de Unaí, quando o carro
com a equipe da DRT passou pelo
Uno, que estava parado no acostamento da rodovia, todo apagado. Logo que passaram por ele, o
Omega, com os faróis altos, encostou na Ranger. Orientado pelo
PM, o motorista deu passagem e o
Omega ultrapassou. Mas, em seguida, surgiu o Uno, que passou a
Ranger e ficou na frente.
O policial, segundo Calazans,
orientou o motorista a ultrapassar e acelerar. Cerca de três quilômetros adiante, o Omega estava
no acostamento da pista contrária, todo apagado. Quando a Ranger passou, ele veio atrás, muito
próximo. Depois de alguns minutos, o PM apontou a arma.
O delegado disse que no local da
chacina têm ocorrido celebrações
no dia 28 de cada mês para lembrar as mortes, ocorridas em 28
de janeiro. Nesta semana, segundo Calazans, a fiscalização foi intensificada na região e foram descobertos quatro trabalhadores em
regime de escravidão.
Denúncias e greve da PF
O Ministério do Trabalho deixou de investigar 74 das 102 denúncias recebidas sobre trabalho
escravo no país neste ano, de
acordo com a secretária de Inspeção do Trabalho, Ruth Beatriz
Vasconcelos Vilela. "Com a dificuldade da greve da Polícia Federal [que acompanha os fiscais do
ministério], a gente só conseguiu
atender 28 denúncias", disse ela
O delegado da PF Valdinho Jacinto Caetano, chefe do setor ao
qual estão ligados 20 policiais que
investigam trabalho escravo, diz
que em dois meses, período da
paralisação, não seria possível
atender 74 denúncias. "Historicamente, fazemos sete operações
por mês, o que daria 14 operações
no período da greve." A paralisação terminou no último dia 7.
Colaborou HUDSON CORRÊA, da Agência Folha, em Campo Grande
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