Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUMO ÀS ELEIÇÕES
O publicitário Luiz Fernando Furquim espera levantar cerca de R$ 43 milhões na campanha tucana
Bancos devem apoiar Serra, diz arrecadador
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os bancos, que registraram lucros recordes nos últimos anos,
devem ser os "grandes apoiadores" financeiros da campanha do
candidato governista à Presidência da República, José Serra
(PSDB-PMDB), como foram nas
duas campanhas do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
A afirmação é do publicitário
Luiz Fernando Furquim, 61, que
está virando um especialista em
finanças eleitorais.
O publicitário vê ex-estatais como doadoras em potencial. "Várias empresas públicas foram privatizadas e têm hoje condições de
contribuir para a campanha, coisa
que antes não fariam", afirmou.
Depois de arrecadar fundos para as duas corridas presidenciais
de Fernando Henrique e para a
fracassada candidatura de Serra à
Prefeitura de São Paulo, em 1996,
Furquim acaba de assumir oficialmente a coordenação financeira
da campanha tucana à Presidência nas eleições deste ano.
Ele ainda não definiu a meta de
arrecadação para 2002, mas diz
que trabalha com o valor de 1998
como "referência". Naquele ano,
o comitê de FHC declarou à Justiça Eleitoral ter recebido R$ 43 milhões em doações.
Dois anos depois, a Folha revelou que pelo menos R$ 10,120 milhões doados à campanha ficaram
de fora dessa contabilidade.
A informação colocou o Ministério Público e a Receita Federal
nos calcanhares de vários arrecadadores daquela campanha, entre
os quais Furquim. "Não estou
sendo investigado pela Receita",
assegura o publicitário.
Formado pela ESPM (Escola
Superior de Propaganda e Marketing), em São Paulo, Furquim não
é filiado ao PSDB. Trabalhou por
dez anos na agência de propaganda J. Walter Thompson, 15 anos
no grupo Pão de Açúcar e quatro
anos na Editora Abril.
Casado, com cinco filhos e seis
netos, Furquim diz que terá, na
campanha de Serra, a mesma função que o ex-ministro Luiz Carlos
Bresser Pereira teve nas campanhas de Fernando Henrique: assinava a contabilidade, mas não colocava a mão no dinheiro.
Isso quer dizer que ainda falta
escolher um nome para a operação financeira: em 1994 a função
foi exercida pelo ministro Sérgio
Motta; em 1998, o ex-presidente
dos Correios Egydio Bianchi respondeu pela área.
Para "não prejudicar a imagem
do candidato", Furquim diz que
quer "evitar a colaboração de
qualquer marca, empresa ou organização que possa estar sob
suspeita, mesmo que não comprovada".
Furquim informou que o economista Ricardo Sérgio de Oliveira não participará da arrecadação
de fundos para Serra. "Eu não conheço esse senhor", declarou.
Ex-diretor do Banco do Brasil,
Ricardo Sérgio de Oliveira arrecadou fundos para a campanha de
Serra ao Senado, em 1994. Ele é
suspeito de ter cobrado propina
durante o processo de privatização da Companhia Vale do Rio
Doce, em 1997
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida por
Furquim à Folha por telefone, na
sexta-feira, de seu escritório, na
capital paulista.
Folha - Quem o convidou para ser
coordenador financeiro da campanha de José Serra?
Luiz Fernando Furquim - José
Serra, no final de abril.
Folha - Fez alguma recomendação especial?
Furquim - Não. Apenas as recomendações de praxe quando se
faz a contratação de um executivo. Nós nos conhecemos há uns
20 anos.
Folha - O sr. vai ter alguma remuneração pelo trabalho na campanha?
Furquim - Não.
Folha - O candidato José Serra vai
ter algum envolvimento com a arrecadação de fundos?
Furquim - Com certeza ele vai
dar atenção a esse departamento
da campanha. [Mas terá apenas
uma participação" protocolar, à
medida que ele apresenta seu programa, suas idéias.
Folha - O que deve mudar nesta
eleição para quem coleta doações?
Furquim - Há uma mudança no
ambiente. Várias empresas públicas foram privatizadas e têm hoje
condições de contribuir para a
campanha, coisa que antes não fariam.
Folha - Ricardo Sérgio de Oliveira
vai ajudar na arrecadação?
Furquim - Eu não conheço esse
senhor. Conheço pelo noticiário.
Com certeza não participará.
Folha - Com certeza não? É isso?
Furquim - É isso. Mas eu não
gostaria de dizer só isso. Primeiro,
eu não conheço o senhor Ricardo
Sérgio. Segundo, [ele" não faz parte desta campanha.
Folha - Quem está autorizado,
além do sr., a pedir dinheiro para a
campanha?
Furquim - Por ora, Luiz Fernando Furquim. [Mas" teremos outras pessoas abaixo de mim e outras acima. Uma idéia é criar um
conselho consultivo para discutir
áreas sensíveis, nas quais temos
de ter mais habilidade.
Folha - O sr. ainda não tem nenhum nome confirmado para ajudá-lo?
Furquim - Tenho alguns nomes,
mas estão sujeitos a registro no
Tribunal [Superior Eleitoral".
Folha - Que precauções o sr. tomará para evitar que gente não autorizada peça dinheiro em nome da
campanha?
Furquim - Vamos saber exatamente quem é quem, aonde foi,
como foi e como voltou. [Vamos"
ter um time extremamente afinado, coeso.
Folha - A campanha aceitará contribuições em dinheiro vivo?
Furquim - Isso não existe. A contribuição é feita em cheque ou depósito na conta do Banco do Brasil.
Folha - A conta já está aberta?
Furquim - Isso deve ocorrer em
uns dez dias. Por ora, qualquer
depósito deve ser feito em nome
do PSDB.
Folha - O sr. vai rejeitar algum tipo de contribuição?
Furquim - Temos um filtro que é
não ter contribuições que possam
denegrir a imagem da campanha
ou do candidato.
Folha - Por exemplo?
Furquim - Acho que está bastante claro. Queremos evitar a colaboração de qualquer marca, empresa ou organização que possa
estar sob suspeita, mesmo que
não comprovada.
Folha - Como vai ser feito o controle da arrecadação?
Furquim - Eu gostaria de ter uma
planilha contábil feita no Excel
[programa que elabora planilhas
eletrônicas" num computador
que não exista.
Folha - Num computador que não
exista é difícil. Por quê?
Furquim - Porque essa é uma
coisa que inferniza a vida de todo
mundo. Saber que você está sujeito a espionagem, a arapongagem
e nós não queremos entregar informações aos nossos concorrentes.
Folha - O que vai ser declarado ao
TSE?
Furquim - Tudo.
Folha - E o que não vai ser declarado?
Furquim - Tudo será declarado.
Folha - Qual é a meta de arrecadação?
Furquim - A campanha [presidencial" de 1998 é um referencial.
Folha - Em torno de R$ 43 milhões.
Furquim - É.
Folha - Qual será o setor preferencial, onde serão buscadas doações?
Furquim - Os bancos hoje têm
uma presença muito forte [na
economia" e devem ser grandes
apoiadores da campanha [de Serra" e de outros candidatos.
Folha - Qual é a semelhança entre
um pedinte de rua e um arrecadador de fundos de uma campanha
presidencial?
Furquim - Se um pedinte quer
aplacar sua fome, nós também
queremos aplacar o desandar do
Brasil. Eu me motivo com isso.
Texto Anterior: Empresas de brindes esperam lucro alto nas eleições Próximo Texto: Frases Índice
|