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PF vai checar obras suspeitas da Operação João de Barro
Objetivo é ver se projetos são fictícios ou apresentam indícios de superfaturamento
Quadrilha que teve diálogos
e encontros monitorados
pela polícia é suspeita de
desvios de dinheiro e fraude
em licitações federais
FERNANDA ODILLA
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de monitorar diálogos e encontros entre lobistas,
empresários e funcionários do
Ministério das Cidades e da
STN (Secretaria do Tesouro
Nacional), a Polícia Federal começa a mapear e checar as
obras que foram alvo das negociatas da quadrilha investigada
pela Operação João de Barro.
Os pedidos de prisão e busca
e apreensão em sete Estados se
basearam até aqui no conteúdo
das conversas por telefone dos
principais acusados de participar do esquema de desvio de dinheiro e fraude em licitações.
Nessa nova etapa, a PF vai
apurar se as obras são fictícias
ou se possuem má qualidade e
outras características que indiquem superfaturamento ou
emprego de materiais diferentes daqueles especificados no
edital, afirmou à Folha o delegado Nelson Cerqueira, responsável pelas investigações.
A PF calcula que os projetos
de saneamento e habitação na
mira dos criminosos já receberam o repasse de R$ 700 milhões. Não fosse a operação, teriam o mesmo destino mais de
R$ 2 bilhões, reservados para
obras do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento),
de repasses voluntários de ministérios para prefeituras e de
emendas parlamentares.
O delegado Cerqueira disse
que a polícia enfrenta dificuldade para identificar que fatia
do programa, carro-chefe do
segundo mandato do presidente Lula, foi ou seria alvo da quadrilha nas 119 prefeituras investigadas. "De qualquer modo, a preocupação das investigações não é a definição de pertencer ou não ao PAC. Mas se
se trata de recurso federal sendo desviado", afirmou.
Segundo ele, as apreensões
nas sedes de prefeituras foram
feitas para ajudar a identificar
o tamanho e a força do esquema. Os grampos indicam que
lobistas e servidores federais
negociaram a liberação de projetos e de recursos para obras
em diferentes municípios,
principalmente do interior de
Minas Gerais, mesmo com documentação incompleta.
A forma de operar e o papel
desempenhado pelos suspeitos
já foram detalhados pela PF.
"Resta definir as ações concretas", afirmou o delegado.
A Folha apurou que a PF põe
representantes de grandes
construtoras no centro da organização criminosa. Além de
oferecer pacotes completos às
prefeituras (projeto básico,
captação de recursos e obra),
esses lobistas atuaram também
junto a parlamentares, prometendo ampliação da base eleitoral em troca de emendas que
garantiriam recursos para as
ações nos municípios.
Para assegurar a liberação de
verbas, o contato com servidores da Esplanada dos Ministérios lotados em cargos estratégicos foi pré-requisito para que
o esquema funcionasse. O pagamento de propina também
foi identificado em ministérios,
nas prefeituras e no Congresso.
Entre os mimos bancados
pelos lobistas do esquema estão viagens a Belo Horizonte,
festas e até garotas de programa. Durante os interrogatórios, que estão sendo feitos na
sede da Superintendência da
PF em BH, os principais investigados têm confirmado encontros e conversas.
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