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GOVERNO NO DIVÃ
Parte da equipe de Lula defende ação rápida para que atual gestão se diferencie de FHC e não arrisque reeleição
Falta de projeto de governo causa desconforto
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Às vésperas de completar o primeiro ano no poder, uma parte da
equipe de Luiz Inácio Lula da Silva avalia que não tem muito tempo a mais para aprender a governar. É preciso deixar de lado o estilo reativo, marca dessa primeira
fase da gestão petista, e adotar
uma linha mais propositiva, definindo um projeto de governo.
A autocrítica desse grupo de ministros vai mais longe: a virada
precisa vir com a reforma ministerial, imprimindo um novo ritmo à administração. Caso contrário, Lula dificilmente conseguirá
se distinguir de uma continuação
dos governos de Fernando Henrique Cardoso e arriscará o projeto
de ficar oito anos no Planalto.
A preocupação já chegou aos
ouvidos do presidente da República, é objeto de documentos que
circulam reservadamente na
equipe de Lula, mas os críticos se
queixam da falta de espaço para
levar adiante a discussão. O núcleo duro, grupo de ministros que
despacha diariamente com Lula,
não estaria aberto a esse debate,
absorvido que está em gerenciar
as crises do governo.
Na reunião "secreta" dos ministros petistas, convocada por Lula
para o sábado da semana passada
na Granja do Torto, o assunto até
que foi arranhado, mas não debatido com profundidade.
Entre os que sentem desconforto pela falta de um projeto de governo, a avaliação é que Lula conseguiu se firmar na área externa
com uma negociação arrojada da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) e enfrentou com sucesso a ameaça de volta da inflação.
Mas falhou em outras áreas, deixando surgir crises ou postergando decisões diante das dificuldades em conciliar os diversos interesses envolvidos. Entram nessa
lista a unificação dos programas
sociais, a política industrial e a polêmica dos transgênicos.
O maior problema para deixar
de apenas reagir ao cotidiano de
crises e imprimir um novo projeto ao país é exatamente a falta de
um projeto -e até mesmo de alguém que o formule. Na equipe
principal de Lula, ninguém se encaixa no perfil de formulador.
Na área econômica, quem dá a
linha geral é o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, a expressão
mais viva da continuidade do governo Fernando Henrique Cardoso. Ele é visto como a grande muralha da equipe econômica, preservando a linha adotada, mas está colecionando inimigos na Esplanada dos Ministérios.
O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, comandado pelo ministro Tarso Genro,
tenta promover um novo pacto
entre trabalhadores e empresários para um modelo de desenvolvimento, mas o resultado ainda
parece longe da realidade. Um
outro grupo, comandado pelo
ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), está pensando em temas de longo prazo.
O resultado é que ninguém no
governo sabe responder quando
vai terminar a transição entre a
continuidade da era tucana e o
verdadeiro governo petista. Um
auxiliar de Lula resume essa angústia na seguinte frase: "Até agora não foi colocado no papel o
projeto de governo Lula".
Alguns documentos até que foram lançados, como os divulgados pela equipe do ministro Antonio Palocci (Fazenda). Mas eles
estão longe de representar um
consenso dentro do governo. E
dificilmente vão se materializar,
como o que propõe mudanças no
ensino superior gratuito no país.
Essa discussão, presente nos
bastidores do governo e que deve
ganhar força no próximo ano,
acaba dando razão à principal crítica da oposição: o PT tinha e tem
um projeto de poder, mas não um
projeto de governo.
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