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Governo Lula é de direita, diz eleitor
RAFAEL CARIELLO
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva acerta ao pretender descolar
de si o rótulo de esquerdista, se
considerada uma pesquisa inédita do Datafolha, feita nos dias 31
de março e 1º de abril. Para a
maioria dos eleitores, o governo
Lula é de direita.
Dos entrevistados, 38% classificam a gestão de Lula como sendo
de direita ou centro-direita -número superior aos 33% que a consideram como de esquerda ou
centro-esquerda e aos 12% que a
têm como de centro. Não souberam responder 16%.
A pergunta não voltou a ser feita
em outros levantamentos.
Na última terça-feira, o presidente Lula disse na Venezuela:
"Em toda minha vida, nunca gostei de ser rotulado de esquerda".
"O eleitor sabe se localizar no
espectro político e identificar as
diferentes posições", diz o cientista político José Augusto Guilhon
Albuquerque, professor do departamento de economia da USP.
A afirmação é relevante pois
boa parte dos cientistas políticos
afirma que os conceitos de esquerda e direita não são usados de
maneira precisa pelos eleitores.
Guilhon foi o orientador do
cientista político André Singer, o
atual porta-voz da Presidência da
República, em uma tese de doutorado em que Singer defende que
os eleitores "captam intuitivamente" as orientações dos partidos e dos candidatos.
"O eleitor identifica a esquerda
como uma opção por mudanças e
a direita como uma opção pela estabilidade", explica Guilhon.
Esse reconhecimento ideológico, ainda que difuso, foi usado por
Singer para explicar o comportamento eleitoral nas campanhas
presidenciais de 1989 e 1994. A tese virou livro, pela Edusp, intitulado "Esquerda e Direita no Eleitorado Brasileiro".
Singer usou uma pesquisa feita
pelo Datafolha em 1989 em que os
entrevistados indicaram o posicionamento num cartão com sete
números, sendo o número um o
máximo à esquerda e o sete o máximo à direita. A mesma técnica
foi usada na pesquisa deste ano.
No último levantamento, também foi pedido às pessoas que
dissessem como se posicionam. A
maior parte dos que souberam
responder, 49%, identificou-se
como de direita ou centro-direita.
Um levantamento de três pesquisas (1989, 2000 e 2003) apresenta uma relativa estabilidade
nas proporções de pessoas que se
classificam como de esquerda, de
centro e de direita. "Isso é prova
de que há coerência [ideológica]",
diz o sociólogo Mauro Paulino,
diretor-geral do Datafolha.
Essa sofisticação do eleitor, diz
Guilhon, aparece na avaliação de
Lula. "O programa do atual governo não se destaca muito do
programa anterior, que era de
centro-direita."
Apesar de prevalecer Lula na direita, o desequilíbrio entre as posições não é grande. Essa aparente
indefinição do eleitor, diz Guilhon, reflete a confusão da coligação de governo, que abriga as três
orientações ideológicas.
Desconhecimento
O cientista político Jairo Nicolau, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), vai na direção contrária: "Há
uma enorme confusão provocada
pela desinformação".
Segundo ele, para muitos eleitores, afirmar que uma pessoa é de
direita significa dizer que ela é
correta, honesta e direita.
A pesquisa mostra que Lula é tido como direitista principalmente por quem estudou menos. A situação é parecida quando se considera a renda. Por mostrar um
eleitorado que se diz direitista, o
cientista político Fábio Wanderley Reis, da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais), diz que
a pesquisa reforça a idéia de que
Lula tem forte apoio popular:
"O presidente exerce uma atração que pouco tem a ver com o
ideário do partido. Não há como
negar que há uma identificação
dos brasileiros com Lula, mesmo
que apoiada em bases equívocas."
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