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Ciência em Dia
Eleição na SBPC
Marcelo Leite
editor de Ciência
Termina em pouco mais de uma semana, dia 12, a eleição para a diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a gloriosa SBPC dos
tempos de oposição ao regime militar. A
apresentação de três candidatos a presidente, quando a regra tem sido de candidaturas únicas e consensuais, sugere que
a sociedade ou está em crise profunda ou
vive um momento rico de renovação.
Outra possibilidade, ainda, é que a reviravolta política com a eleição de Luiz
Inácio Lula da Silva esteja a exigir uma
reconfiguração do consenso morno na
comunidade científica, no que respeita
às relações com o governo federal (ainda
a maior fonte de verbas para pesquisa).
Apesar da oposição política ao governo
de Fernando Henrique Cardoso, muitos
cientistas na prática pareciam contentes
com as políticas para o setor, que culminaram na criação dos fundos setoriais,
uma inovadora fonte de recursos.
A lua-de-mel desandou antes mesmo
de Lula tomar posse. As burras dos fundões começaram a fechar-se já em 2002,
estranguladas pelo contingenciamento
do qual os fundos deveriam escapar. A
racionalidade desses fundos, aplaudidos
dentro e fora do estamento científico, era
garantir verbas estáveis para a pesquisa.
O alerta sobre o contingenciamento e
sobre a discrepância entre discurso modernizante e prática encantatória da gestão FHC foi soado pela equipe de transição de Lula. Ela também inaugurou uma
crítica mais visível e estridente dos pressupostos dessa gestão, como o repasse de
certas funções estratégicas às chamadas
organizações sociais, que firmariam contratos de gestão com o governo.
A marcha a ré nas organizações sociais
já começou, com o corte nas verbas e nas
atribuições do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), que deveria
coordenar a destinação das verbas dos
fundos setoriais. Outra que teve as asas
cortadas foi a ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron),
à qual caberia capitanear um programa
nacional de nanotecnologia (desenvolvimento de materiais e dispositivos na escala do bilionésimo de metro).
Da presidência da ABTLuS vem o físico
Rogério Cezar de Cerqueira Leite (também membro do Conselho Editorial da
Folha), o terceiro candidato a se registrar
para a presidência da SBPC. A julgar pela
energia da polêmica que tem travado
com o MCT, pode-se prever que, caso
eleito, venha a mover a oposição mais vigorosa à administração Lula.
No outro extremo da coagulação de
posições catalisada pelo governo do PT
seria o caso de localizar o outro físico na
disputa, Ennio Candotti, professor da
Universidade Federal do Espírito Santo
que já presidiu a SBPC duas vezes. Distanciado do centro de gravidade da pesquisa brasileira, Candotti parece ser o
mais próximo da militância petista. Não
é de estranhar, assim, que sua proposta
privilegie a descentralização, para contrabalançar o peso desproporcional da
comunidade de cientistas paulistas. Candotti é visto por seus adversários como
um candidato "da máquina" da SBPC.
Entre os dois, de certo modo, encontra-se o filósofo Renato Janine Ribeiro,
da USP. Destoa da candidatura tradicional por vir das ciências humanas, que
não passa por fase positiva nestes tempos de inovação pela inovação. É o ungido da comunidade paulista, como fica
evidente por uma carta de apoio de ex-presidentes da SBPC, como Crodowaldo
Pavan, Sérgio Henrique Ferreira e Warwick Kerr. Embora declare abertamente
ter votado em Lula, sua trajetória acadêmica e pública sugere que deverá passar
longe de um alinhamento automático.
E-mail: cienciaemdia@uol.com.br
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