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Passeatas em bairro miserável de Johannesburgo impõem realidade social sul-africana a reunião da ONU
Protestos retomam a questão da pobreza
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO
As ruas de Johannesburgo foram tomadas ontem por milhares
de manifestantes, que aproveitaram a Rio +10 para protestar contra a exclusão social, a falta de
acesso à terra e as privatizações na
África do Sul -e também pelo
desenvolvimento sustentável.
Duas passeatas saíram no final
da manhã (madrugada em Brasília) de Alexandra, um dos bairros
mais pobres, e percorreram 12 km
até o Sandton Centre, onde 104
chefes de Estado se reúnem a partir de amanhã para a última etapa
da cúpula de Johannesburgo.
Uma delas foi organizada por
movimentos sociais como o LPM
(o MST sul-africano), criado em
2001 e ligado à Via Campesina, o
MSI (Movimentos Sociais Indaba), que reúne diversas organizações civis sul-africanas, e a Frente
Antiprivatização. Segundo o
LPM, integrantes do MST também participaram da marcha, que
reuniu de 15 mil a 20 mil pessoas
(estimativa do LPM), ou 5.000
(segundo a polícia).
A outra manifestação (6.000
pessoas, segundo a polícia) foi organizada pelo Congresso Nacional Africano, partido do presidente Thabo Mbeki, pelo Partido Comunista da África do Sul e por
uma central sindical governista.
Mbeki, que tem enfrentado críticas internas pela condução do
processo de privatização no país,
tenta aproveitar a Rio +10 para se
aproximar das massas.
Os manifestantes reunidos ontem por seu partido no estádio de
Alexandra pediriam aos líderes
mundiais -entre os quais o próprio Mbeki- que garantam o
cumprimento dos objetivos de redução da pobreza até 2015 previstos na Declaração do Milênio.
Membros do CNA simpatizantes da causa palestina também
compareceram, para pedir o fim
do "holocausto" promovido por
Israel -aliado dos EUA, país do
qual Mbeki tenta se aproximar.
A manifestação "oficial" foi organizada depois que os grupos da
sociedade civil anunciaram que
fariam uma passeata. "As pessoas
querem separar o CNA do povo",
disse à Folha o governador da
província de Gauteng (onde fica
Johannesburgo), Sam Shilowa.
Os sem-terra, vindos de várias
partes do país e acampados perto
do estádio Nasrec (onde acontece
o Fórum Global, das ONGs), chegaram a Alexandra entoando canções zulus -etnia majoritária em
Johannesburgo. "Shona, malanga, shona" (o sol não vai parar de
brilhar), dizia uma delas.
O LPM, que havia realizado
protestos antes da cúpula, entrou
em acordo com o governo para
não bloquear o acesso do Sandton
Centre aos chefes de Estado.
Uma das líderes do LPM que
haviam sido presas nos protestos
da semana passada disse à Folha
que o governo esvaziou a passeata, retirando de circulação alguns
ônibus que trariam manifestantes. A polícia nega.
O jornalista Claudio Angelo viajou a Johannesburgo a convite da BrasilConnects Cultura e Ecologia
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