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Centro-Oeste perde mais com clima quente, diz estudo
Prejuízo em Mato Grosso, polo de agronegócio, pode chegar a R$ 333 bi até 2050, devido principalmente à escassez de água
Estimativa integra nova
fase do relatório "Economia
do Clima", primeiro a fazer
no Brasil o cálculo do custo
do aquecimento global
GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Centro-Oeste sofrerá as
maiores perdas econômicas do
Brasil, em termos proporcionais, com aquecimento global.
Até 2050, o prejuízo pode atingir R$ 639 bilhões, o equivalente a dois anos e meio de crescimento. Só em Mato Grosso,
principal polo do agronegócio
da região, o valor chega a R$
333 bilhões. É como se o Estado
parasse de gerar riquezas durante mais de cinco anos.
As informações fazem parte
de uma nova etapa do estudo
"Economia do Clima", que no
fim do ano passado estimou
prejuízo de até R$ 3,6 trilhões
nos próximos 40 anos em todo
o Brasil. Um novo relatório,
com lançamento oficial previsto para o primeiro trimestre,
detalha onde e como acontecerão os estragos.
Agricultura
Em entrevista à Folha, Carolina Dubeux, coordenadora
operacional do projeto (que
reúne 11 instituições de pesquisa), adiantou alguns resultados.
Segundo a pesquisadora da
Coppe/UFRJ, os indicadores
demonstram uma diminuição
significativa das áreas "aptas às
culturas alimentares". Sobretudo por conta do clima mais
quente e seco e do acesso à
água mais limitado.
O estudo baseia-se em dois
cenários do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) -um com
emissões menores de gases-estufa, outro com emissões maiores. A medida de comparação é
o PIB, soma de todas as riquezas produzidas, de 2008.
No Nordeste, as áreas de cultivo podem encolher 23% até
2070. No pior cenário, a região
perde R$ 653,7 bilhões, quase
duas vezes seu PIB de 2008.
Alagoas tem prevista a maior
perda relativa da região (R$ 95
bilhões), quase cinco anos de
crescimento jogados fora.
No Norte, as quedas variam
entre R$ 91,6 bilhões e R$ 267
bilhões. Roraima, cujo PIB (de
R$ 4,2 bilhões) é o menor do
Brasil, perderá, no mínimo, o
equivalente a 14 meses de produção. Na pior hipótese, amargará estragos comprometendo
três anos de sua economia.
O estudo alerta que a redução nas áreas de cultivo aumentará a pressão sobre as florestas nativas. A expansão do
pasto também é uma preocupação, afirma Dubeux. "As pastagens têm baixa produtividade, mas em algumas regiões,
elas serão uma opção tentadora para substituir as lavouras. É
uma situação preocupante."
Tanto o Nordeste quanto o
Norte enfrentarão ondas de calor. A quantidade de chuvas
também deve diminuir, reduzindo a vazão dos rios e, assim,
prejudicando a geração de
energia. Embora o estudo não
detalhe quais seriam os impactos específicos em cada empreendimento, as bacias hidrográficas que alimentam as três
maiores hidrelétricas planejadas ou em construção no Brasil
-Santo Antônio e Jirau, em
Rondônia, e Belo Monte, no
Pará- poderiam ser afetadas.
A redução nas vazões também deve chegar ao Centro-Oeste, onde, segundo o Plano
Decenal de Energia, Goiás receberá 15 novas hidrelétricas
nos próximos oito anos.
Poluição atrai poluição
"Precisaremos de investimentos muito grandes para
compensar os efeitos negativos
da redução dos recursos hídricos", diz a coordenadora do estudo, que aponta uma queda de
até 31,5% da capacidade de geração de energia firme [aquela
garantida mesmo sob condições climáticas adversas].
A dificuldade para gerar
energia nos rios deve impulsionar o uso das usinas termelétricas, mais poluentes.
Segundo Eduardo Haddad,
professor da USP e coordenador de modelagem econômica
da pesquisa, isso aumenta a dependência do uso do petróleo e
seus derivados, "amenizando
parte do impacto econômico
nos Estados produtores", como
Rio de Janeiro e Sergipe. As
consequências ambientais, por
outro lado, podem se agravar
com a energia "suja".
A agricultura, pilar econômico da região Centro-Oeste, deve sofrer efeitos em todas as
culturas. As áreas favoráveis à
produção de arroz e feijão podem encolher 12% e 10% respectivamente até 2050. As
plantações de soja também serão afetadas, com redução de
área potencial de até 34%.
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