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Tecnologia revela migração de peixe-boi na Amazônia
Pesquisador do Inpe instalou antenas transmissoras na cauda dos animais
Objetivo é determinar qual
é o tamanho da área de que
o mamífero precisa para
viver, o que deve orientar
políticas de conservação
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O peixe-boi-da-Amazônia,
que pode chegar a 450 kg e 3 m
de comprimento, consegue se
esconder muito bem nas águas
doces e turvas da região amazônica. Mas a tecnologia tem ajudado a revelar a intimidade
desse acanhado mamífero, tido
como vulnerável na lista de animais ameaçados de extinção.
Uma pesquisa de doutorado
do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) acaba de
mostrar que o peixe-boi-da-Amazônia faz uma migração
anual, o que deve auxiliar na
proteção da espécie.
O estudo aponta que o animal deixa os lagos de várzea de
Mamirauá, na planície de inundação do rio Solimões, quando
as águas começam a baixar. E se
refugia durante o período de
seca nas águas pretas e mais
profundas do lago Amanã
-nessa área, fica um pouco
mais protegido de caçadores e
de jacarés. Com a chegada da
enchente, o bicho viaja de volta
aos lagos de origem.
A pesquisa é importante porque, ao descobrir por onde os
animais se deslocam e qual é o
tamanho da área de que precisam para viver, é possível tomar medidas para sua preservação -como a criação de novas reservas. "É como calcular a
área de vida de uma pessoa, onde ela mora, onde trabalha, onde come", compara o autor do
trabalho, Eduardo Arraut.
Na região estudada já existem duas reservas de desenvolvimento sustentável, Mamirauá e Amanã. A preservação
do peixe-boi contou como argumento para a criação delas.
Para estudar a migração, dez
peixes-bois receberam cintos
com radiotransmissores -colocados na cauda dos adultos.
Os jovens não podem usar o
cinto porque são apertados pelo equipamento ao crescer.
Cada cinto possui uma antena que emite um pulso em
VHF. São usadas antenas ligadas a aparelhos receptores para
captar o sinal -quando a antena receptora aponta para a direção em que o animal está, o
sinal fica mais forte.
A tarefa de capturar os animais e colocar o cinto, entretanto, não foi simples. Arraut
lembra que levou um mês para
conseguir pegar um dos peixes-bois da pesquisa -mesmo com
a ajuda de 25 pessoas da comunidade, que conhecem bem a
espécie e a região.
O peixe-boi não é violento.
Porém, é muito forte e, para tirá-lo ou colocá-lo de volta no
rio, foi preciso o empenho de
seis homens.
Miriam Marmontel, do
IDSM (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá), foi quem iniciou a observação da migração e teve papel
fundamental no trabalho.
Segundo ela, esse tipo de estudo salienta a importância da
manutenção de grandes áreas
para preservação do peixe-boi,
assim como a existência de
uma variedade de ambientes,
incluindo canais para deslocamento livres de ameaças.
Profundidade
Além de "seguir" os animais,
também foram medidas as profundidades dos rios e lagos por
onde os peixes-bois passaram.
Uma sonda instalada num barco media e gravava as informações, e os dados eram colocados
num sistema de informações
geográficas. A partir disso, foram gerados modelos em três
dimensões do ambiente aquático do peixe-boi. Isso ajudou a
verificar que os animais migravam quando a água baixava.
Arraut diz que, como se sabe
onde as populações humanas
vivem na Amazônia, ao estudar
o deslocamento do animal também é possível ter uma idéia de
como as atividades dos homens
têm influenciado a vida dos
mamíferos. E, segundo ele, a situação da espécie parece ser
pior do que se imaginava.
"Além da redução populacional
conseqüente da caça comercial
histórica, soma-se agora o fato
de os melhores habitats de água
alta coincidirem espacialmente
com as regiões mais populosas
da Amazônia, onde a degradação ambiental é maior e a pressão da caça ilegal provavelmente mais intensa", afirma.
Marmontel pretende usar
um sonar para contar quantos
desses mamíferos ainda existem na região -o equipamento
já foi testado por ela na Flórida.
A orientadora de doutorado
de Arraut, Evlyn Novo, diz que
o próximo passo é pesquisar o
deslocamento dos peixes-bois
em outras áreas, para comprovar o padrão de migração. E diz
que está sendo desenvolvido
um sensor para facilitar a "perseguição" do animal, que seria
observado via satélite.
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