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+ ciência
"É preciso pensar na possibilidade de aprendermos
a disparar o programa da morte celular presente em todas
as células; seria natural, econômico e pouparia várias
pessoas idosas e suas famílias de muita infelicidade"
MORTE EVOLUÍDA
Max-Planck-Gesellschaft/France Presse - 7.out.2002
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Caenorhabditis elegans, animal-modelo para estudo da morte celular programada |
Lewis Wolpert
especial para o "Independent"
Estamos vivendo em meio a uma população que
envelhece. A expectativa de vida quase duplicou
no Reino Unido nos últimos 150 anos, graças às
condições de vida artificialmente melhoradas da
civilização moderna. Mas será que de fato gostaríamos
que ela fosse estendida consideravelmente? Será que todos esses biólogos moleculares espertos, tendo o genoma humano nas mãos, se tornarão capazes de projetar
genomas para a extensão da vida?
É improvável, acreditamos todos, e pense apenas em
quanto tempo demoraria para descobrir se eles estavam na pista certa. Mas fique de olho em como eles estão fazendo progresso com um humilde verme.
O verme nematódeo [Caenorhabditis elegans, ou C.
elegans] se tornou um dos modelos favoritos dos biólogos do desenvolvimento. Tem um número fixo de células -só 973-, e essa é uma das razões pelas quais
Sydney Brenner, que ganhou um Prêmio Nobel um
ano atrás por esse trabalho, escolheu estudá-lo. Uma
das mais importantes descobertas a vir desse verme foi
a compreensão do programa para a morte celular, ou
apoptose, que todas as nossas células trazem gravado
dentro de si.
A morte celular deveria ocorrer quando a célula começa a assumir um estado canceroso, e a incapacidade
de ativar essa trava de segurança pode ser uma má notícia. Mas as novas pesquisas com o verme trazem algumas surpresas sobre o envelhecimento.
Viver 500 anos
Esses vermes vivem cerca de 20 dias.
Estudos genéticos do animal mostraram que uma mutação num gene codificador de uma proteína similar à
insulina duplicava a duração da vida do verme. Se o sistema reprodutivo desses vermes for inteiramente retirado, os animais vivem quatro vezes mais. Manipulações genéticas adicionais levaram os animais a viverem
por 120 dias, um aumento de seis vezes na expectativa
de vida. É o equivalente a seres humanos viverem até
por volta dos 500 anos de idade. Alguns vermes morreram, é claro, mas só 15% deles.
Será que esses animais envelhecidos viviam uma vida
boa? Algumas das criaturas modificadas geneticamente
eram de fato muito paradonas, por assim dizer, e bem
descoordenadas, sugerindo que tenha havido uma perda de energia associada com a vida prolongada. Mas
aquelas sem as gônadas e geneticamente modificadas se
moviam alegremente pela sua placa de cultura. Saber
como elas se sentiam quanto à perda de seu sistema reprodutivo é uma outra história.
As expectativas de vida de animais variam, na natureza, de algumas semanas a mais de um século. Presumindo que os ancestrais dos animais do presente tenham tido uma expectativa de vida mais curta, mudanças nos genes teriam ampliado a expectativa de vida de
alguns animais mais de mil vezes. Embora fiquem muito aquém desse feito, os resultados com o verme nematódeo mostram que extensões notáveis da longevidade
podem ser obtidas sem perda aparente de saúde ou vitalidade, com a perturbação de um pequeno número de
genes e tecidos do animal. Essas extensões na expectativa de vida, que são as maiores jamais obtidas artificialmente em quaisquer organismos, são particularmente intrigantes porque a via metabólica
de similares da insulina controla a longevidade em muitas espécies, inclusive animais.
Esses estudos deveriam nos
lembrar dos problemas dos humanos quando envelhecem. A
evolução não tem lá muito interesse na qualidade de nossas vidas depois que nos reproduzimos e criamos nossos filhos para que possam se defender por
si mesmos, embora haja alguma
evidência de que as avós sejam
selecionadas para ajudar com as
crianças, e que por isso as mulheres vivam mais que os homens. A grande maioria da população não está mais trabalhando depois da idade de 65
anos, e há problemas relacionados com a qualidade de vida em
seus últimos anos. Será que nossos representantes eleitos estão
dando a devida atenção a esse
fator?
Programa mortal
A melhor
maneira de terminar a vida seria
rapidamente, após um período
de existência feliz e satisfatória.
Bem, nem sempre é o que acontece -longe disso-, e quantias
excessivas são despendidas nos
últimos seis meses da vida de
uma pessoa, em comparação
com todos os anos anteriores. Será que realmente vamos querer tratamentos dolorosos e desagradáveis que
possam prolongar a vida apenas um pouco?
Talvez o nematódeo possa ajudar, mais uma vez. Pense apenas na possibilidade de que nos tornemos capazes de disparar facilmente o programa da morte celular
presente em todas as nossas células, quando estivermos
prontos para ir: seria bem natural e economizaria um
monte de dinheiro para os serviços nacionais de saúde,
e, ainda mais importante, várias pessoas idosas e suas
famílias seriam poupadas de muita infelicidade.
Lewis Wolpert é professor de biologia aplicada à medicina no
University College de Londres
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