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Eletrodo contra Parkinson ajuda pesquisa em prótese
Dispositivo capta sinal que, no futuro, poderá fazer braço robótico se mover
Mecanismo eletrônico feito
pelo neurocientista Miguel
Nicolelis nos EUA vai ser
implantado em pacientes
brasileiros pela primeira vez
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O avanço de uma técnica para tratar sintomas do mal de
Parkinson vai ao mesmo tempo
ajudar pacientes e cientistas. O
implante de uma nova classe de
eletrodos -dispositivos que
captam e emitem sinais elétricos- vai ser feito pela primeira
vez no país nos cérebros de dez
pacientes do Hospital Sírio Libanês. Além de minimizar sintomas, o dispositivo ajudará
médicos a entenderem melhor
como o cérebro se comporta.
Mais sofisticados do que um
eletrodo de quatro pontos já
usado no Brasil, a nova peça
-desenvolvida pelo neurocientista Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, da Carolina do
Norte (EUA)- capta informação de 32 pontos do cérebro.
"Será possível registrar o engrama [marcas fisiológicas] do
movimento", diz Manoel Jacobsen Teixeira, neurocirurgião-chefe do novo projeto. Ele
coordenará o implante do eletrodo -que está na fase final de
aprovação- no Sírio Libanês.
"O paciente ganha porque poderá se beneficiar de forma
imediata das novas informações que são registradas."
O eletrodo criado pelo grupo
de Nicolelis facilita o trabalho
dos cirurgiões pois permite saber com precisão onde o tecido
nervoso deve ser estimulado
para que os sintomas sejam
controlados. "O dispositivo
tem 32 filamentos em uma estrutura única. A penetração do
tecido vai ocorrer de uma só
vez e a colocação do eletrodo
será mais rápida e precisa", diz
o neurocientista da Duke.
Nicolelis, que pesquisa nos
EUA atividade cerebral para
desenvolver braços robóticos e
próteses para deficientes físicos, afirma que os eletrodos implantados nos parkinsonianos
também ajudarão a entender
melhor como funciona o córtex
motor dos humanos.
A técnica, afirma Teixeira,
poderá ser aplicada, no futuro,
a vítimas de acidentes que tenham perdido a comunicação
nervosa entre o cérebro e um
ou mais de seus membros.
"Conseguir registrar onde
ocorre exatamente a intenção
do movimento é importante",
diz. "Essa nova aplicação vai
contribuir muito para o desenvolvimento tecnológico."
Nicolelis já conseguiu, em
seu laboratório, fazer com que
macacos comandassem braços
robóticos com a mente. Na Duke, o mesmo eletrodo que chega agora ao Brasil já está em uso
no cérebro de 28 seres humanos com Parkinson.
Em um experimento feito simultaneamente nos EUA e no
Japão, os cientistas conseguiram fazer com que a "intenção
de andar", lida no cérebro de
um macaco em um lado do
mundo, fosse transmitida para
um robô do lado de lá do planeta. A máquina seguiu as idéias
"elétricas" do animal e caminhou como ele queria.
"O implante dos eletrodos é o
primeiro passo para essa manipulação robótica remota [em
humanos]", afirma Nicolelis.
A transferência tecnológica
entre a Universidade de Duke
com o Sírio Libanês também
prevê que o hospital paulistano
ajude a financiar um centro de
assistência à saúde da mulher
na cidade de Macaíba (RN),
perto do Instituto Internacional de Neurociência de Natal,
fundado por Nicolelis.
"Esse centro foi inaugurado
ontem [anteontem]. Ocorreram as primeiras 15 consultas",
diz o neurocientista. "Serão 20
mil ao ano", afirma.
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