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Periscópio
Angiogênese
José Reis
especial para a Folha
Angiogênese é a formação de novos
vasos sanguíneos. Há anos se sabe
que os tumores, para se desenvolverem,
precisam de abundante suprimento de
sangue. Sem ele o tumor não cresce nem
se espalha. Daí a idéia de recorrer à inibição da angiogênese para manter estacionário o tumor, ou mesmo destruí-lo. Se
isso fosse possível, poderiam os especialistas pensar em combater o tumor pela
injeção diária de uma dose ou mais de
um inibidor da angiogênese.
Cada célula tumoral é um misto de inibidores e estimuladores de angiogênese.
Quando os dois grupos estão em equilíbrio, o tumor não cresce, mas quando os
estimuladores prevalecem, o tumor revive e pode alastrar-se.
Muitos não acreditam na possibilidade
de inibir os tumores pelo bloqueio da angiogênese, tratando os pacientes como se
fossem diabéticos -uma ou mais doses
de inibidor por dia. Entendem que, em
matéria de câncer, é preciso recorrer a cirurgia e outros meios como radioterapia,
que extirpam o tumor de uma vez. O perigo, todavia, são as recaídas, com o aparecimento de novos tumores mais tarde.
Pesquisadores chefiados por Noel
Bach, da Northwestern University de
Chicago, conseguiram extrair de tumores uma proteína, a trombospondina,
que parece ligada ao gene supressor de
tumores p53. Logo depois, Judah Folkman, de Harvard, extraiu a trombostatina. Ambas as substâncias inibem a angiogênese. Experiências em animais com
tumor revelaram que a trombostatina
pode inibir a formação tumoral.
Chegou-se, assim, à noção de que cada
célula cancerosa é um misto de inibidores e estimuladores da angiogênese. Mas
o mecanismo pelo qual o equilíbrio entre
as substâncias se rompe não é conhecido, embora tenha sido objeto de muita
pesquisa. Começou, não obstante, uma
verdadeira caçada aos inibidores, que,
como os estimuladores, são produtos
naturais das células tumorais. Mas logo
se descobriu que a fabricação industrial
da trombostatina é inviável, porque exige quantidades enormes de plasma que
todavia não dão para atender às necessidades do tratamento, que tem de ser diário. Descobriu-se, entretanto, que a
trombostatina auxilia os tratamentos
convencionais, tanto a radioterapia
quanto a quimioterapia.
Outro agente capaz de estancar em
parte a angiogênese é a talidomida, substância proscrita depois que provocou
malformações em bebês cujas mães a tomaram para evitar as náuseas da gravidez. Não obstante, os cientistas estão
pesquisando os efeitos da talidomida como antagônicos da angiogênese.
Novo caminho que tem sido pesquisado consiste em bloquear os vasos colocando ao longo de seu caminho natural
receptores capazes de desviá-los, estancando a ação dos vasos. O bloqueio se faz
por meio de anticorpos contra os receptores dos vasos. Até agora já se identificaram pelo menos dois receptores, mas
não se dispõe de dados sobre a eficácia
desse processo. As pesquisas sobre o uso
da antiangiogênese continuam aceleradamente, porém por ora esse campo é
meramente experimental, como é a produção de novos inibidores.
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