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Ciência em Dia
Um portal para a pesquisa brasileira
Marcelo Leite
editor de Ciência
Está na hora de começar a pensar
grande sobre ciência no Brasil. E pensar grande, no caso, significa engajar
uma parcela tão ampla quanto possível
do público -antes que ele seja conquistado por redes internacionais, como os
portais em gestação pelas revistas "Nature" (britânica) e "Science" (americana).
Virou moda, por exemplo, falar que a
produção nacional -mais de 10 mil artigos publicados em revistas internacionais de primeira linha- cresceu 450%
entre 1981 e 2001, portanto muito acima
da média mundial de 67%. Só que ninguém atenta como deveria para o fato de
que o país saiu de um patamar ínfimo e,
apesar de tanto avanço, continua em 17º
lugar no ranking dos países. Produz-se
aqui mero 1,4% do total mundial.
Em termos relativos, a situação pode
até ser vista com algum otimismo. Na
América Latina, o Brasil produz 40% da
ciência de qualidade. Em setores como
ciências agrárias, a participação sobe para 3% da produção internacional.
Em resumo, ainda há muito chão para
andar, se o país um dia quiser ocupar posição compatível com o tamanho de sua
população e de sua economia. Claro está,
porém, que competição não é a razão
principal para tal esforço. A ciência básica de qualidade, assim como os subprodutos tecnologia e inovação, é universalmente aceita como uma condição necessária para o desenvolvimento econômico (eu acrescentaria: e humano).
Ela deve representar um valor em si
mesma, algo a ser priorizado e perseguido pela sociedade em qualquer circunstância, mesmo na adversidade. Um valor
de caráter civilizacional, se quiserem.
Para que se estabilize nessa condição, a
pesquisa precisa aparecer com maior
destaque na agenda nacional, e não só na
das corporações envolvidas (como as
universidades e as agências de fomento).
É preciso formar mais pensadores, pesquisadores e engenheiros, não só estimulando a oferta (de vagas), mas sobretudo despertando vocações científicas.
Inclusive nas ciências humanas, de onde
flui o pensamento crítico que tanta falta
faz nesta era de cientificismo galopante.
Essa transformação de ordem cultural
só se obtém com oportunidades para o
desenvolvimento de talentos e com divulgação científica. Há muitos instrumentos para isso, de métodos específicos
e criativos para educação matemático-científica aos museus de ciência, mas
gostaria de chamar a atenção para um
instrumento bem à mão, a internet.
Os cientistas brasileiros têm de sair do
armário, quer dizer, do gabinete. Precisam mostrar tudo que já conseguiram
fazer de nível internacional, mesmo nas
condições adversas em que trabalham. O
meio mais simples é a internet, que está
na mesa de todos eles, de muitos jovens
e, em breve, na maioria das escolas.
É evidente que um portal-vitrine da
ciência brasileira necessitaria de um filtro editorial exigente, para impedir que se transforme em mero veículo de promoção. Alguém tem de responsabilizar-se por separar o joio do trigo, adotando
critérios acadêmicos como publicação
numa revista renomada, obtenção de
verba em processo competitivo ou apresentação em reunião científica.
Seria no mínimo uma fonte mais confiável para trabalhos escolares, por
exemplo. Melhor ainda se os estudantes
pudessem ter acesso aos autores dos trabalhos, pois nada como o contato direto
com profissionais para despertar vocações. E, de quebra, um portal desses seria
uma mão na roda para repórteres de
ciência, hoje constrangidos a buscar informação sobre pesquisas de brasileiros
na "Nature" e na "Science".
E-mail: cienciaemdia@uol.com.br
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