|
Próximo Texto | Índice
USP produz proteína para recuperar osso
Primeiro biofármaco para reposição óssea sintetizado totalmente no Brasil estará no mercado em três anos, diz grupo
Após a aplicação da nova substância, são as células-tronco adultas do próprio paciente que promovem o crescimento do tecido ósseo
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em três anos, numa visão otimista -ou cinco, na pessimista-, o Brasil terá seu primeiro
biofármaco 100% nacional para reposição óssea. O desenvolvimento científico do produto é
de responsabilidade do Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo). Os cientistas já têm um acordo com
uma empresa brasileira, que
será a responsável por dar escala comercial ao invento.
"O fato de o produto ser feito
exclusivamente no Brasil vai
diminuir os custos da aplicação
para o Sistema Único de Saúde", explica Mari Cleide Sogayar, principal responsável pelo
projeto. O grande salto evolutivo que o grupo conseguiu foi
domar a superproteína BMP,
que participa de vários processos de crescimento ósseo e de
outros tecidos de mamíferos,
desde o embrião até a fase adulta. "Ela é uma proteína bastante complexa", diz Sogayar.
Muito conhecidas e usadas
nos EUA, duas versões da BMP,
a tipo 2 e a tipo 7 (são 15 tipos
no total) são identificadas pelos
cientistas com a produção de
crescimento ósseo. Soma-se a
isso o fato de, desde os anos
1960, os pesquisadores já conhecerem os genes responsáveis pela síntese da BMP.
Com esses ingredientes todos dentro do laboratório, o caminho era conseguir, a partir
de uma linhagem de células retiradas do ovário de um hamster, fazer com que a proteína
fosse sintetizada.
"O grande desafio é conseguir uma quantidade importante de proteína e que ela tenha a atividade desejada", afirma Erik Halcsik, que também
participa dos trabalhos na USP.
E o grupo, aparentemente,
conseguiu. Os novos genes são
colocados por meio de vetores
(anéis de DNA nos quais os
cientistas inserem os genes de
interesse) dentro das células.
Eles acabam sendo inseridos
no genoma normal das estruturas celulares que, portanto, vão
produzir a proteína desejada.
Após vários testes, que mostraram quais os ingredientes da
receita de bolo precisavam ser
melhor trabalhados, o grupo da
USP decidiu que tudo estava
pronto. Os primeiros testes, então, foram feitos. E as pesquisas
conseguiram promover o crescimento ósseo em camundongos. Foram seis anos de trabalho desde o início do projeto.
Células-tronco
A parte da aplicação da nova
proteína no paciente também
escapa do dilema ético. Não
existe material celular na injeção do novo produto. "Apenas é
feita a aplicação da proteína,
combinada com material inerte
(osso moído)", diz Sogayar.
Na seqüência, então, quem
vai entrar no circuito são as
próprias células-tronco adultas
dos pacientes. Com a proteína
servindo de substrato, as células do próprio organismo conseguirão sofrer uma replicação
maior e, com isso, formar mais
tecido ósseo.
Até ossos da boca, importantes para os transplantes dentários, por exemplo, poderão ser
obtidos por esse método.
Fora da bancada
Apesar de acreditar que a
proteína estará no mercado em
três anos, Sogayar lembra que
não é trivial transformar algo
produzido no laboratório em
produto ser vendido no mercado, em grande escala.
"São muitos protocolos que
precisam ser validados. E isso
será feito em seguida pela própria empresa, que ainda não
quer que o seu nome seja revelado", afirma a pesquisadora da
USP. Todos os procedimentos,
também, devem ser aprovados
pela Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária).
Mas com a dose de aplicação
da proteína já aprovada pelo
FDA (agência de vigilância dos
Estados Unidos), de acordo
com Sogayar, já é possível obter
bons resultados terapêuticos,
de forma bem mais rápida do
que os tratamentos mais convencionais utilizados hoje.
Por existir esse precedente,
acreditam os cientistas, a aprovação do protocolo aqui no Brasil deverá ocorrer também.
Próximo Texto: Biofármaco permite tratamento mais rápido Índice
|