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DESASTRE EM ALCÂNTARA
Em 2 fracassos anteriores com foguetes VLS, Aeronáutica reuniu grupo independente da agência espacial para investigar causas
Governo deve criar comissão independente
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Aeronáutica deve formar uma
comissão para investigar as causas da explosão que destruiu o terceiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1) e matou
pelo menos 21 pessoas, às 13h30
de anteontem, no Centro de Lançamento de Alcântara (MA).
O procedimento adotado tende
a ser o mesmo que cercou as investigações das outras duas falhas
do VLS-1, ocorridas em 1997 e
1999. Nas ocasiões, o Deped (Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento da Aeronáutica)
estabeleceu uma comissão com
membros do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço) e militares da Aeronáutica.
"A mesma coisa deve acontecer
desta vez", disse Luiz Gylvan Meira Filho, ex-presidente da Agência
Espacial Brasileira (AEB). "Uma
comissão independente da agência será estabelecida e, com muita
calma, irá determinar o que saiu
errado e corrigir o problema."
O ministro da Defesa, José Viegas, o da Ciência e Tecnologia,
Roberto Amaral, e o atual presidente da AEB, Luiz Bevilacqua,
chegaram a Alcântara às 11h55 de
ontem para acompanhar as investigações, que estão sendo iniciadas por equipes do CTA e da Aeronáutica. Uma entrevista coletiva estava prevista para as 17h, em
São Luís (MA).
Luiz Bevilacqua, que também
foi para Alcântara, está familiarizado com os procedimentos da
comissão, pois participou da
equipe que investigou a falha
ocorrida em 1999.
Segundo o major Gustavo Krüger, do Centro de Comunicação
Social da Aeronáutica (Cecomsaer), há um sistema de câmeras
que acompanha ininterruptamente os trabalhos na plataforma
de lançamento. As investigações
sobre o que teria ocorrido devem
começar pela análise desse material em vídeo. Um inquérito já foi
aberto para apurar os fatos.
As buscas pelos corpos das vítimas foram retomadas ontem, a
partir das 6h, e o número final de
mortes foi confirmado: 21.
Causas
A explosão que vitimou o protótipo do VLS-1 está ligada à tecnologia responsável pela ignição dos
motores, supostamente a mais
conhecida dos engenheiros brasileiros. As primeiras hipóteses sobre o que pode ter acontecido começaram a circular informalmente ontem no CTA e no Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), em São José dos Campos (SP). Elas corroboram a informação divulgada anteontem de
que o acidente teria ocorrido pelo
disparo prematuro de um dos
propulsores do primeiro estágio.
A explosão possivelmente provocou a desestabilização e a queda dos estágios superiores e a destruição da Torre Móvel de Integração, prédio-plataforma usado
para montar e preparar o foguete.
Ainda não se sabe a razão que
levou à ignição prematura, mas
entre as possibilidades estão falha
humana na operação, problemas
com o combustível sólido usado
no VLS-1 ou um defeito no sistema pirotécnico, responsável pela
reação que acende os propulsores
e inicia a queima do combustível.
"Pirotecnia é uma coisa que o
Brasil domina há pelo menos cem
anos", diz Luiz Gylvan Meira Filho, ex-presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB). "No tempo de Dom Pedro, o país já fabricava e controlava pólvora."
O sistema empregado no VLS-1
é muito mais complexo que qualquer rojão. Ainda assim, é uma
das tecnologias mais simples do
projeto brasileiro. "Ironicamente,
foi a que apresentou falhas nos
dois primeiros lançamentos do
VLS", diz Gylvan.
As duas tentativas anteriores de
lançamento ocorreram enquanto
Gylvan ainda era presidente da
agência. Na primeira, um dos
propulsores do primeiro estágio
não funcionou. Na segunda, houve um problema na separação dos
estágios. Mas a perda dos veículos
se deu no ar, sem vítimas.
O VLS-1 é o único objetivo nacional ainda não realizado para a
Missão Espacial Completa Brasileira (o lançamento de um satélite
brasileiro, por um lançador nacional, de uma base localizada no
país). Criado em 1980, o foguete é
composto por quatro estágios
("andares"), todos abastecidos
por combustível sólido.
O pó que alimenta a subida do
foguete é de manipulação simples. Uma vez iniciada a combustão, porém, ela não pode ser interrompida. A terceira tentativa de
lançar o VLS-1 ocorreria amanhã,
com os satélites Satec-1 (do Inpe)
e Unosat (da Universidade Norte
do Paraná). O foguete, com custo
estimado em US$ 6,5 milhões, foi
totalmente destruído.
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