|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Militar descreve incêndio
ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Era um forno sem parede. Eu
olhava para trás e via 300 toneladas de aço sendo consumidas por
uma imensa bola de fogo. Uma gigantesca nuvem de gás tóxico se
formava em cima de todos nós."
Essa é a descrição da cena do
acidente da VLS-1 relatada ontem
à Folha por um militar que estava
com mais dez pessoas a 400 metros do local onde ocorreu o acidente em Alcântara. Ele falou sob
o compromisso de não ter seu nome revelado, porque está proibido de dar entrevistas.
O militar afirmou que não houve explosão, mas uma combustão
espontânea. Segundo ele, por alguma razão, os motores entraram
em ignição. "No começo, parecia
uma coisa corriqueira, mas começamos a ouvir o barulho e corremos." Ou seja, o forte barulho que
foi ouvido a vários quilômetros da
base de Alcântara era dos motores
do VLS-1.
O sobrevivente relatou que todos os profissionais que trabalhavam na base de Alcântara estavam treinados para a hipótese de
ocorrer um acidente. Segundo ele,
a segurança funcionou perfeitamente. "Todos corremos para a
área de segurança, onde ficam
médicos e bombeiros."
Questionado sobre se os bombeiros tentaram apagar o incêndio, ele disse que o fogo não é apagável porque foi gerado por um
combustível sólido que não necessita de oxigênio para fazer
combustão. "Tudo o que tínhamos para fazer era esperar."
Resguardados do perigo do incêndio, os funcionários da base de
Alcântara calaram-se. Não havia
gritos nem choro. Todos assistiam atônitos ao maior incêndio
que já viram em suas vidas.
Alguns perceberam que o vento
tratava de levar para o sentido
oposto a grande nuvem de gás tóxico formada pela combustão.
Outros verificavam que o fato
de não ter havido um explosão
preservou a vida de todos os que
não estavam na torre.
"Depois de algum tempo, as
pessoas trataram de procurar
umas às outras. Quando se encontravam, se tocavam, para terem certeza de que estavam realmente bem. Estávamos lá havia
muito tempo; comíamos juntos,
dormíamos juntos, pegávamos os
mesmos carros: havia um sentimento de irmandade entre nós. E
alguns de nossos irmãos estavam
completamente indefesos, no
meio daquela bola de fogo."
O militar disse acreditar que os
mortos pelo acidente não são heróis nem vítimas. "São profissionais muito competentes, pioneiros no que faziam. Nunca vi ninguém reclamar ou negligenciar
um trabalho. É uma perda irreparável para a ciência."
Após o fim do incêndio, os sobreviventes não puderam se
aproximar do local, mas viram
o que restou. "O que sobrou foi
uma imagem dantesca de uma
imensidão de ferro fundido.
Texto Anterior: Acidente repercute nos EUA e Europa Próximo Texto:
+ ciência: Equilíbrio pontuado Índice
|