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Periscópio
Esquizofrenia e PET
José Reis
especial para a Folha
Dois pesquisadores médicos, um
norte-americano e outro alemão,
publicaram na revista "Nature" suas experiências com a esquizofrenia paranóide utilizando o imageamento pela PET
(tomografia por emissão de pósitrons).
Concluíram ser possível por esse meio
delimitar a área geradora das alucinações e modelar os remédios contra a
doença.
A PET é dispositivo não-invasivo que
permite fotografar e analisar com grande
precisão e sensibilidade a atividade das
estruturas do corpo, inclusive os circuitos vasculares e nervosos. Baseia-se na
ação de pósitrons, que são elétrons positivos. Ela tem concorrido vantajosamente, em certas circunstâncias, com outros
recursos de varredura ou esquadrinhamento estrutural.
As esquizofrenias são um grupo de
doenças caracterizadas por alterações
ideoafetivas, segundo ensina Isaac Mielnik em seu dicionário de termos psiquiátricos. A American Association of
Psychiatry define a esquizofrenia como
grave distúrbio emocional de nível psicótico profundo, caracterizado por fuga
à realidade com produção de delírios,
alucinações, desarmonia e conduta
agressiva. O nome esquizofrenia foi criado por Eugen Bleuler em 1911, embora o
reconhecimento do mal, sob várias denominações, seja muito mais antigo. A
palavra significa cisão mental.
Um dos tipos de esquizofrenia é a paranóide, que configura pensamento autista
ou paralógico, delírios de referência, perseguição ou grandeza, mal sistematizados e acompanhados de alucinações.
Um dos pacientes estudados no trabalho
publicado na "Nature" era moço de 25
anos, que se dizia perseguido por voz
ameaçadora que lhe dirigia palavras irreverentes de acusação ou censura, ou procurava orientar-lhe a conduta.
Os pacientes eram deitados em quartos
isolados, onde eles apertavam um botão
da PET sempre que ouviam as palavras.
Com essa operação, "acendiam" as áreas
cerebrais supostamente atingidas, que os
cientistas fotografavam de dez em dez
minutos e, mais tarde, comparavam e casavam com o ruído do botão. Conseguiram, afinal, verdadeiro álbum fotográfico de alucinações ativas.
O resultado do trabalho foi excelente,
conseguindo os cientistas localizar circuitos cerebrais que parecem controlar
as alucinações auditivas provenientes da
doença. A identificação das áreas de alucinação talvez permita compor os fármacos ativos desses locais e curativos do
processo.
Sugerem ainda os resultados obtidos
que as alucinações sejam produto conjunto das estruturas cerebrais profundas
que regulam o pensamento e as emoções
e das áreas superficiais associadas aos sinais sonoros e visuais. Integrando vozes e visões aleatórias com emoções, o cérebro pode dar agudo senso de realidade a esse tipo de estímulo. Segundo lembra Jeannifer Mattos em "Time", os achados se contrapõem à idéia de que os pacientes com alucinações na verdade estejam falando consigo mesmos, pois as varreduras do cérebro pela PET revelam atividade na área correspondente à audição, porém não nas relativas à fala.
Esta é a última coluna de José Reis. Ela foi enviada à Folha na primeira quinzena de maio
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