|
Próximo Texto | Índice
Paulista faz "nariz" de laboratório
Proteína descoberta por grupo da USP melhora técnica usada para mapear moléculas do olfato humano
Criadora da nova técnica
trabalhou com ganhadora
do Prêmio Nobel; método
ajudará a associar cheiros
com receptores celulares
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma técnica criada por pesquisadores do Instituto da Química da USP deve permitir o
mapeamento preciso das moléculas envolvidas no olfato, um
sentido ainda misterioso e cuja
tentativa de decifração já rendeu até um Prêmio Nobel. Os
cientistas desenvolveram um
método para tornar células de
cultura em laboratório mais
sensíveis aos odorantes, substâncias que carregam cheiros.
A nova ferramenta foi elaborada pelo grupo da bioquímica
Bettina Malnic, ex-orientanda
da ganhadora do Nobel de Medicina de 2004, Linda Buck. Ela
deve ajudar a cobrir uma lacuna de conhecimento sobre o olfato, que permanece inexplorada por falta de técnicas in vitro.
Humanos possuem 388 tipos
de de receptores de olfato ("fechaduras" químicas nas células
do nariz), que combinados produzem uma diversidade de cerca de 10 mil odores. O problema
é que a função de 90% dessas
moléculas é desconhecida.
"Apenas cerca de 30 receptores foram mapeados", disse
Malnic. A dificuldade é que, nas
células cultivadas em laboratório, os receptores não são produzidos em boa quantidade.
A receita para criar células de
nariz eficientes em laboratório
foi o uso da proteína Ric-8B,
que promove a ativação dos receptores. Malnic desenvolveu a
técnica primeiro em receptores
de camundongo, e agora deve
começar a mapear alguns receptores humanos. Ela descreve sua técnica na edição de hoje
da revista "PNAS".
A Ric-8B existe naturalmente nos neurônios olfatórios,
mas tem um papel biológico
ainda desconhecido. "Achamos
que ela aumenta a sensibilidade dos neurônios, amplificando
a via de transmissão de sinais
entre eles", diz Malnic.
Para um laboratório pequeno, pode ser difícil determinar
quais combinações de odorantes e receptores geram os cerca
de 10 mil cheiros que humanos
são capazes de sentir. "Mas
existem companhias de biotecnologia interessadas em ferramentas para fazer essas correlações", afirma Malnic.
"Queremos descobrir quais
receptores são mais conservados entre espécies ao longo da
evolução, e que ligantes eles reconhecem", diz. É provável que
receptores compartilhados por
muitos animais tenham funções importantes.
Próximo Texto: Ganhadora do Nobel de Medicina quer reproduzir pesquisas de brasileiros Índice
|