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Cientistas recriam retrato oculto feito por Van Gogh
Imagem de mulher tinha sido pintada sob o quadro "Campo de grama" em 1884
Técnica que usa acelerador de partícula é primeira a recuperar figura em cores; um terço da obra do pintor pode ter desenhos ocultos
Desy/Reuters
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Montagem mostra rosto revelado sob imagem de gramado
DA ASSOCIATED PRESS
Cientistas europeus divulgaram ontem uma obra inédita do
pintor holandês Vincent van
Gogh. Usando raios X de alta
energia produzidos por um
acelerador de partículas, os
pesquisadores encontraram e
reconstituíram os traços e as
cores de um retrato de mulher
sobre o qual Van Gogh pintou
depois por cima, na mesma tela, a obra "Campo de grama".
Historiadores da arte já usavam raios X para vasculhar telas em busca de pinturas ocultas, mas o resultado era difuso e
em preto-e-branco.
Agora, Joris Dik, da Universidade de Tecnologia de Delft
(Holanda) e Koen Janssens, da
Universidade de Antuérpia
(Bélgica), desenvolveram um
método de visualização de pinturas ocultas que usa raios X de
alta energia para mapear pigmentos de tinta.
Para testar a técnica, a dupla
escolheu "Campo de grama"
-um pequeno estudo a óleo
que Van Gogh pintara em Paris,
quando vivia lá com seu irmão
Theo-, da coleção do Museu
Kroller-Muller, na Holanda.
Escondido embaixo da obra
os pesquisadores acharam o
rosto de uma mulher. Estima-se que até um terço da obra do
pintor tenha imagens ocultas.
Teio Meedendorp, especialista em Van Gogh, acredita que
o retrato oculto revelado agora
tenha sido pintado entre novembro de 1884 e março de
1885 em Nuenen (Holanda).
Durante esse período, ele pintara vários retratos de uma
mesma modelo. A série abriu
caminho para a seu clássico "Os
comedores de batata".
Os raios X de alta energia foram gerados pelo acelerador
Desy, do tipo síncrotron , em
Hamburgo, Alemanha. Quando
elétrons acelerados quase à velocidade da luz dão voltas no
circuito circular da máquina,
eles emitem os raios X. Isso
permite compilar um mapa bidimensional dos metais contidos na tinta embaixo da obra
pintada posteriormente.
Sabendo que os átomos de
mercúrio faziam parte de um
pigmento vermelho e os átomos de antimônio faziam parte
de um pigmento amarelo, eles
foram capazes de mapear essas
cores na imagem subjacente.
A pintura "Campo de grama"
acrescenta peso à teoria de que
Van Gogh enviou pelo correio
pinturas da Holanda para o seu
irmão Theo, e, após se mudar
para Paris para se juntar a ele,
encontrou alguns trabalhos antigos e pintou sobre eles.
Meedendorp se diz entusiasmado com a possibilidade de
usar a técnica para estudar pinturas ocultas de outros artistas,
como Rembrandt e Picasso.
"Fiquei realmente surpreso pela qualidade da imagem, o que é
mesmo promissor para o futuro da pesquisa", afirma.
Entretanto, analisar outras
pinturas pode ser difícil. A técnica requer um acelerador de
partículas, e existem poucos no
mundo. A Holanda, por exemplo, não tem nenhum.
Um artigo científico assinado
por Dik e Janssen foi publicado
ontem online na revista "Journal of Analytical Chemistry"
descrevendo o processo.
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