São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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PROJETO

Antes de usar a picareta, é preciso diferenciar as que são estruturais daquelas que têm apenas função vedante

Um dia a casa cai para quem derruba parede sem calcular

Fernando Moraes/Folha Imagem
SOBREVIDA A porta ao lado ocupa o lugar de uma parede que foi derrubada na Unifesp; no detalhe, a perfuração realizada

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Às vezes, a eliminação de uma parede pode transformar um apartamento simples em um loft, ou uma cozinha sem graça em um espaço mais arejado. Mas, antes de pegar a marreta, é preciso saber qual pode ser derrubada. Senão, a casa cai, literalmente.
As paredes "sinal verde" são as de vedação, ou seja, que separam ambientes e não servem para segurar o que vai acima delas.
As complicadas são as estruturais (que sustentam o peso do telhado, da laje e de caixas-d'água) ou as que têm prumada (onde passam dutos hidráulicos e de eletricidade de abastecimento geral).
Mesmo assim, dá para driblar pilares e prumadas fazendo vãos ou arcos entre eles, abrindo a parede sem derrubá-la. "Nem sempre vale a pena, pois é onde passam o encanamento e a fiação", diz o arquiteto Luiz Bloch, 56.
Quem mora em casa pode substituir paredes de sustentação por vigas e pilares ou remanejar as prumadas. Mas, antes disso, engenheiros e arquitetos recomendam bastante cálculo -agora, de ordem financeira. "Em modificações muito grandes, o custo inviabiliza a solução", esclarece o engenheiro Natan Lezental, 64.
Em apartamentos, é mais simples eliminar paredes, porque elas não fazem parte da estrutura, mas topar com uma prumada é fatal. "Diferentemente do que ocorre nas casas, em prédios ela não pode ser desviada", reforça o engenheiro Marco Addor, 36.

Responsabilidade de peso
Nas casas, o peso da cobertura geralmente se divide entre as paredes. Por isso uma picaretada em falso pode comprometer toda a estrutura e causar rachaduras no piso e nas outras paredes.
"Para retirar uma parede estrutural, é preciso substituí-la por vigas ou por pilares que suportem a carga que ela sustentava, além de checar se as outras paredes suportam a nova distribuição", ensina Ubiraci Souza, 42, professor do departamento de construção civil da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).
Mas isso não vale para todas. "Hoje, as estruturas são mais independentes da alvenaria", conta o arquiteto Gilberto Belleza, 40, presidente do IAB-SP (Instituto dos Arquitetos do Brasil).
Além de analisar aspectos estruturais, especialistas recomendam levar em conta que a eliminação de uma parede pode interferir no conforto termoacústico.
"Se juntar um cômodo que recebe muito sol com outro menos ensolarado, o segundo esquenta, por exemplo", completa Edison Fávero, 51, professor de arquitetura e urbanismo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). (BRUNA MARTINS FONTES)


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