São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002 |
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A prática de copiar móveis de designers famosos é econômica para o consumidor e um problema para os criadores Clones
FREE-LANCE PARA A FOLHA É tênue a linha que separa um móvel original de uma cópia. A clonagem de peças alheias é cada vez mais frequente, o que ajuda a inserir o Brasil na lista de países que mais desrespeitam os direitos de propriedade industrial. O argumento do consumidor final é quase sempre o mesmo: o preço. Em um mercado competitivo, são poucos os clientes dispostos a pagar mais por um móvel que pode ser copiado a um custo menor por um marceneiro. É o caso da professora Solange Rubino, 37. O orçamento do armário embutido de seus sonhos ficou em R$ 60 mil na Ornare. "Após seis meses de pesquisa, fiz um parecido numa marcenaria. Paguei R$ 40 mil, incluindo camas, bicamas e prateleiras para o meu quarto e o dos meus filhos." Ela conta que, quando tinha dificuldade de explicar o que queria, levava o marceneiro à loja. "O banheiro da suíte é igual ao da revista." A cozinha, a cama e os criados-mudos também foram copiados. "Ia às lojas, pegava o modelo e passava para o marceneiro." A Ornare não se pronunciou. Perigos da cópia O designer de móveis Ricardo Cintra, 34, alerta para as proporções utilizadas pelo marceneiro. "Sem o desenho técnico, ele vai fazer tudo da forma mais fácil." Assim, o objeto pode perder proporções e harmonia originais -um criado-mudo delicado corre o risco de se tornar grosseiro caso fique com a gaveta muito grande, exemplifica Cintra. Ele diz ainda que é importante fazer vários orçamentos. "A maioria dos arquitetos e decoradores passa um custo muito acima do cobrado pelo marceneiro. Às vezes, cinco vezes mais." Tudo tem seu preço. "Cópias não pagam o custo de criação do objeto nem de marketing", afirma Enio Rechtman, 38, dono da Marcenaria Rechtman. "A vantagem é que sai sob medida." Módulos nem sempre cobrem os espaços, justifica a dona-de-casa Yussara Maschio Guazzelli, 36, que clonou os seus de uma revista. "O problema é que, em geral, o marceneiro não tem noções de ergonomia, e as peças ficam esdrúxulas", rebate o designer Fernando Jaegger. "Isso não quer dizer que o produto em série seja o supra-sumo da perfeição", diz. Para o arquiteto Ricardo Hering, 41, da R&H Arquitetura, é como piratear software. "Vivo de idéias. Todo mundo pensa que é decorador e copia o que um profissional leva tempo para criar." A prática da cópia parece ter nascido junto com as lojas da moda. Considerado o "pai" do design de móveis brasileiro, o carioca Sérgio Rodrigues, 74, autor da poltrona Mole (1958), lembra que o problema vem de muitos anos. "Nos anos 50, minha loja Oca começou a ser copiada por várias "Oquinhas'", conta. Ou seja, tanto o seu conceito de loja quanto os objetos eram clonados. "Eu me defendo fazendo sempre coisas novas", diz. (NATHALIA BARBOZA) Próximo Texto: Selo pretende frear a cópia de design no setor de móveis Índice |
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