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JOÃO-DE-BARRO
Para dar TETO governo de SP usa o CHÃO
BRUNA MARTINS FONTES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Algumas comunidades rurais
paulistas em breve verão "brotar"
da terra mais do que os alimentos
que plantam para subsistência.
A Secretaria da Habitação do
Estado aprovou um projeto de
dez casas-piloto feitas com paredes de taipa de pilão e adobe (tijolos crus) para abrigar famílias de
quilombolas de Eldorado (285 km
a sudoeste de São Paulo).
Para materializar os traços do
arquiteto Paulo Montoro, 56, conselheiro da ABCTerra (Associação Brasileira dos Construtores
com Terra), a secretaria aguarda a
liberação de R$ 300 mil e estima
que as obras comecem em dois
meses. Cada casa tem 64,85 m2 e
custa R$ 10.565.
"Pensamos na terra porque é fácil de obter, dá bom conforto térmico à edificação e eles estão
acostumados a construir com
ela", explica Denise Corrêa, 49, diretora técnica do grupo de operações por processos alternativos da
Secretaria da Habitação.
Montoro adiciona que as paredes em taipa de pilão são mais resistentes à compressão do que as
de pau a pique, típicas da região. "Seguram a cobertura
sem pilares de madeira, que
encarecem a obra."
De acordo com o plano, as
casas serão doadas à comunidade quilombola, população ocupante de áreas de
quilombos, que antes abrigavam escravos foragidos.
Se a experiência der certo,
pode ser estendida a outras
comunidades de quilombolas, mas não há intenção de
levá-la a áreas urbanas, segundo Barjas Negri, secretário de Estado da Habitação.
Na cidade, Witoldo Zmitrowicz, professor de planejamento urbano da Escola
Politécnica da Universidade
de São Paulo, acha que o
método só deve ser implantado em regiões em que o
acesso aos materiais convencionais seja difícil.
"Na periferia, as pessoas se sentem mais seguras fazendo lajes
para dificultar invasões, e a parede teria de suportar esse peso."
Pau-a-pique
As áreas onde vivem os quilombolas parecem bairros rurais, como define Carlos Gomes, 40, assistente especial para comunidades quilombolas do Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado
de São Paulo).
A maioria das casas tem paredes
de pau a pique (palha trançada e
barro) e cobertura de sapê. "Mas
há algumas de alvenaria, com telhas de amianto, feitas em projetos das prefeituras", diz Gomes.
A iniciativa é vista com bons
olhos por profissionais da área. "É
mais adequado usar o material
economicamente mais viável da
região, e construções bem-feitas
em taipa superam a durabilidade
das de alvenaria", afirma Kurt
Amann, 31, coordenador do curso de engenharia civil do Centro
Universitário da FEI.
Para o arquiteto Sylvio Sawaya,
61, professor titular de projeto da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a realização do
projeto significa um segundo passo para a construção em terra.
"Em um primeiro momento, a
técnica foi usada em casas de alto
padrão, como efeito de demonstração para maior aceitação. A
importância do trabalho com os
quilombolas é que chega também
ao padrão popular."
Ele considera fundamental a
participação do governo. "Para
sair do protótipo e lidar com a
"muralha" da produção organizada da construção civil, é preciso
ter apoio do Estado."
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