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Beirais largos, correção do solo e impermeabilização das fundações dão robustez e resistência às moradas
Desprotegida, obra vai por água abaixo
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Casas feitas com paredes de terra colecionam elogios a seu desempenho térmico, custo, baixo
impacto ambiental e resistência.
O único desafio que impõe medo
a essas construções é a água.
"Essa habitação precisa de botas
de cano alto e de um bom guarda-chuva", ilustra o arquiteto Paulo
Montoro, referindo-se às fundações e à cobertura.
Isso porque, como o material
não é cozido, pode deteriorar-se
por causa do contato constante
com a água se a morada não estiver devidamente protegida.
"Quando a parede fica seca, corre o risco de trincar", alerta o engenheiro Paulo Cesar Nunes de
Aquino, 35, coordenador da divisão de tecnologia das construções
do Instituto de Engenharia.
Um item indispensável no projeto são os beirais largos no telhado, como aponta Witoldo Zmitrowicz, da Escola Politécnica da
USP. "As águas pluviais não podem passar junto à parede, então
é preciso planejar um bom sistema de drenagem."
Quanto às "botas de cano alto",
em seu projeto para a Secretaria
da Habitação, Montoro lançou
mão de fundações de pedra com
40 cm de altura. A impermeabilização não deve ser deixada de lado, para que a água do solo não
suba pelas paredes.
Resistência
Quando se trata de segurar a casa, o adobe e a taipa têm comportamentos distintos. O primeiro
geralmente é usado para vedação.
Já a taipa de pilão dá origem a
paredes robustas, desde que a terra seja bem compactada dentro
das fôrmas, para evitar trincas.
"A resistência depende da espessura. As igrejas coloniais têm
grande porte, mas possuem paredes de 50 cm", pontua Aquino.
O ganho também se estende ao
conforto dentro de casa. "A construção é praticamente uma moringa, porque a terra tem boa permeabilidade, demora para aquecer de dia e, à noite, esfria lentamente", explica Sylvio Sawaya.
Como a terra usada para levantar as casas geralmente é aquela
encontrada no local, o método é
considerado de baixo impacto
ambiental, pois minimiza as idas
e voltas de caminhões ao canteiro.
Além da taipa de pilão e do adobe, utilizados no projeto de Montoro, outras técnicas construtivas
têm a terra como matéria-prima.
São o tijolo compactado com
prensa manual, a taipa de mão
(ou pau-a-pique, armação de paredes com barro moldado em
madeira ou bambu) e o Pise (sigla
em inglês para terra estabilizada
compactada pneumaticamente),
que não é muito comum no país.
Mas, antes de revolver o solo, é
preciso analisá-lo para saber se
precisa de correções e reforços.
"A terra brasileira é mais argilosa
do que arenosa, e, para fazer a taipa, ela precisa ter 30% de argila e
70% de areia", calcula Montoro.
O material às vezes recebe cal,
que agrega as partículas de terra e
deixa a parede menos permeável.
Em março de 2003, várias entidades e faculdades de arquitetura
se reuniram para elaborar um
projeto de regulamentação das
técnicas construtivas em terra na
ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas).
Um ano depois, Montoro conta
que o projeto não foi para a frente.
"Tivemos reuniões com a Caixa
Econômica Federal, mas elas foram minguando, e esperamos retomá-las", afirma. "O processo de
normatização é complicado."
(BRUNA MARTINS FONTES)
ABCTerra e arquiteto Paulo Montoro: 0/xx/11/3887-5692.
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