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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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DEBATE

Presidente da Asbea diz que banalização deixa o estilo perto do esgotamento

Para arquitetos, mercado dá sobrevida ao neoclássico

Fernando Moraes/Folha Imagem
Detalhe da fachada do Plaza Iguatemi Business Center, obra neoclássica de Israel Rewin


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A harmonia das construções neoclássicas do século 18 costuma agradar muito aos olhos de quem conhece os exemplares franceses e os erguidos no Brasil. Mas os edifícios construídos em São Paulo com inspiração no estilo nos últimos anos parecem causar efeito contrário nos arquitetos de hoje.
Isso porque, na opinião de profissionais que discutiram o tema em debate realizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) na última terça-feira, o movimento é mais orientado pelo mercado do que por razões culturais.
Quando o neoclássico original surgiu na arquitetura, pretendia usar a proporção e a harmonia como reação aos excessos ornamentais do barroco e do rococó.
"Hoje, o estilo alia duas vantagens: imagem bem-vista pelos compradores e o barateamento da construção", situa Henrique Cambiaghi, 53, presidente da Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura). "O público gosta porque passa a sensação de nobreza e de solidez."
Para o arquiteto Israel Rewin, 59, recursos como saliências casam bem com a massa do revestimento pré-moldado de fachadas. "Linhas contemporâneas pareceriam pobres com esse método."

Equilíbrio distante
A proporção é um dos quesitos que mais preocupam o arquiteto Benedito Lima de Toledo, professor de história da arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
"Adaptar ao prédio vertical um estilo concebido para construções horizontais incorre em erros de proporção. A busca do equilíbrio, tão característica do neoclássico, não está presente nos projetos."
Rewin avalia que isso não ocorre em todos os prédios, apenas quando os arquitetos não têm discernimento para aplicar o estilo.
Toledo ressalta que não adianta copiar modelos sem levar em conta sua funcionalidade. "Quando há balcão ou saliência, os prédios geralmente ficam com marcas na pintura porque a água empoça e escorre pela parede pela falta de pingadeiras e rebaixos."
"O estilo combina com algumas demandas do mercado, como ter mais janelas, mas precisa adaptar-se tecnicamente aos dias de hoje", concorda Rewin. Os debatedores também revelaram preocupação de a reprodução muito semelhante de vários prédios com o mesmo modelo tolher a criatividade dos profissionais.
Mas o arquiteto Itamar Berezin, 43, discorda desse fado e não acredita que a inspiração neoclássica limite a inventividade. "Os profissionais devem recriar, e não copiar. Trabalho com uma releitura mais "clean" do neoclássico, mesclado com elementos contemporâneos, como a pele de vidro."
Na avaliação de Cambiaghi, os traços neoclássicos estão a caminho de abandonar as pranchetas. "Como o estilo está ficando banalizado, esse esgotamento libera o arquiteto para fazer coisas novas."
(BRUNA MARTINS FONTES)



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