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TIM LOPES
Após um ano do assassinato, medo da violência impede novas iniciativas para favela e promessas não saem do papel
Morte de jornalista afasta projetos sociais
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
O assassinato do jornalista Tim
Lopes, da Rede Globo, em 2 de junho do ano passado, levou para a
favela Vila Cruzeiro, no complexo
do Alemão (Penha, zona norte do
Rio), o estigma da violência e afastou projetos sociais do local.
Na favela, o jornalista foi capturado por traficantes. Ele estava na
Vila Cruzeiro para filmar um baile funk com uma microcâmera.
Foi torturado e morto na vizinha
favela da Grota. Tinha 51 anos.
À época, a governadora Benedita da Silva (PT) prometeu que o
morro seria ocupado socialmente. Seriam implantados na comunidade postos médico e odontológico, unidades móveis da Receita Federal e do Ministério do Trabalho, centros de esporte e lazer e
cursos profissionalizantes.
Um ano depois, segundo lideranças locais, confirmadas pela
atual administração estadual, os
projetos nunca saíram do papel.
"O que sobrou para a comunidade foi a decepção depois de tantas promessas. As coisas estão até
piores, porque, com a imagem da
violência, ninguém tem coragem
de entrar aqui", disse o presidente
da Associação de Moradores da
Vila Cruzeiro, Antônio Tibúrcio.
Ele conta que, desde a morte de
Tim, os projetos sociais que existiam na favela têm diminuído gradativamente. Projetos novos não
têm sido implantados. Existem
apenas um projeto piloto da prefeitura, chamado Agentes da Liberdade, em que 11 ex-detentos
fazem cursos de qualificação profissional, e uma escolinha de futebol, também municipal.
Outros projetos foram prometidos por ONGs, entidades religiosas e pelas administrações estadual e municipal, mas nada foi feito. O medo da violência contribuiu para a falta de ações sociais
na favela, o que tem gerado mais
desemprego.
"Nós ficamos com uma fama
ruim, o que não tínhamos antes.
Tudo está pior. Muitos moradores que trabalhavam na comunidade, como agentes de saúde, por
exemplo, perderam o emprego. E
arrumar trabalho lá fora também
é complicado por causa do preconceito contra quem é daqui."
A única promessa cumprida pelo governo estadual foi a instalação do Gpae (Grupamento de
Áreas Especiais), da PM (Polícia
Militar). Planejado para reduzir a
violência, o Gpae é uma tropa especializada em policiamento comunitário preventivo.
O objetivo, que é de se integrar à
comunidade, como forma de evitar confrontos violentos, não tem
sido cumprido. O próprio comandante da unidade, major Rogério Seixas, admite que a integração "leva tempo e é muito difícil".
Segundo ele, os 111 policiais militares que integram o Gpae passaram por um curso de direitos
humanos e policiamento comunitário, mas não existe uma relação amistosa com os moradores.
"A gente vê muito policial circulando, mas acho que eles nem sabem o nome das lideranças da comunidade", disse Tibúrcio.
O secretário estadual de Ação
Social e Cidadania, Fernando William, concorda. "O Gpae não
cumpre seu papel porque ele deveria vir acompanhado de ações
sociais, o que não aconteceu."
Questionado sobre o fato de nada ter sido feito pela gestão da governadora Rosinha Matheus
(PSB), que completou cinco meses, o secretário alega que foi criado o projeto Vida Nova, que atende a 30 jovens na favela. Ele afirma
que também está sendo concluída
uma proposta de "intervenção social" em áreas prioritárias.
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