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VIOLÊNCIA
De 1994 até 2002, registros em delegacias de defesa da mulher dobraram, mas denunciantes ainda são minoria
Mulheres denunciam mais agressões
DO "AGORA"
As mulheres paulistas estão menos tolerantes à violência doméstica. Um indício dessa mudança é
que, nos últimos nove anos, mais
que dobrou o número de registros
feitos nas Delegacias de Defesa da
Mulher (DDM) do Estado.
Em 1994, cerca de 114 mil mulheres registraram ocorrências
nas DDMs. Em 2002, o número
saltou para 288 mil -aumento de
150%. No mesmo período, a população feminina cresceu apenas
20%. Considerado o crescimento
populacional, as denúncias tiveram um acréscimo de 107%.
Esse dado não reflete, necessariamente, um crescimento na violência. "Isso significa que as mulheres estão perdendo o medo de
denunciar. Não podemos dizer
que a violência aumentou, pois só
temos conhecimento quando o
caso chega à delegacia", avalia
Márcia Buccelli Salgado, delegada
titular da Delegacia Geral da Mulher da capital paulista.
A maioria das mulheres vai às
delegacias para denunciar ameaças e espancamentos. A reportagem teve acesso a estatísticas de
DDMs de todo o Estado desde
1994 e constatou um aumento de
quase 93% em casos de lesões corporais -ou seja, as denúncias
praticamente dobraram.
Houve um crescimento ainda
maior nas denúncias de ameaças.
A média mensal no Estado, em 94,
ficou em 2.561. No primeiro trimestre de 2003, esse número subiu para 7.129 por mês -um aumento de 130%.
Os números se tornam mais
preocupantes ao levar em conta
uma pesquisa feita, em 2001, pela
Fundação Perseu Abramo, com
2.502 mulheres de 187 municípios
de todo o país. "Constatamos que,
de cada cem mulheres, 33 já sofreram algum tipo de agressão física", diz Marisol Recaman, coordenadora do Núcleo de Opinião
Pública.
Se fosse inserido, nesse contexto, o universo de mulheres paulistas que fazem registros policiais
-duas em cada cem-, seria
possível afirmar que 94% das mulheres ainda sofrem em silêncio.
Muitas preferem recorrer a
ONGs (Organizações Não-Governamentais) que dão apoio em casos de violência doméstica. Na
Fundação Francisca Franco, a
maior parte das mulheres atendidas nos últimos três anos tem
mais de 30 anos.
Segundo a delegada Márcia, a
maioria das denunciantes é de
classes sociais mais baixas. "Mulheres mais simples se preocupam
menos em expor o marido. As de
classes mais altas, quando têm de
recorrer a alguém, procuram um
advogado", explica.
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