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Fantasma maior é o reencontro
DO "AGORA"
Além do sofrimento inicial da
separação e do trauma de anos, as
mulheres vítimas de violência doméstica têm ainda que conviver
com o temor do possível reencontro com o ex-marido.
Na tarde da sexta-feira, Neila,
23, voltava de sua primeira audiência com o ex-marido. "Olha
como minhas mãos ainda estão
tremendo. Eu não sabia que ia encontrá-lo lá. Quando o vejo, lembro das coisas que ele me fazia,
quando eu pedia para não me bater. Mas ele não me ouvia", disse.
Há dois meses, Neila saiu de casa depois de uma briga com o marido e nunca mais voltou. A solução foi viver -com o filho de um
ano e sete meses- em um abrigo
para mulheres vítimas de violência. Mudar de casa para um abrigo -cujo endereço é mantido em
sigilo pelo governo estadual-
não foi suficiente para que Neila
se visse livre do marido.
"Precisei mudar de emprego
para ele não me achar." Segundo
Neila, o marido, que sabia onde
ela trabalhava, chegou a ir até o local para ameaçá-la. "Hoje, tenho
medo até de encontrá-lo na rua."
Foram quase dois anos de uma
história marcada por agressões.
"No início, tudo era bom. Mas,
uns oito meses depois, ele já começou a me bater", lembra. Neila
conta que o marido saía de casa e
voltava drogado. "Aí sempre me
batia e me forçava a ter relações
sexuais. Uma vez, chegou a me jogar da escada. Fiquei muito machucada, foi horrível."
Para Neila, o medo das ameaças
feitas pelo marido era o que a
mantinha em casa. "Ele também
prometia que nunca mais ia me
bater. No começo, eu acreditava."
Ir até a delegacia, para muitas
mulheres, não significa registrar
queixa contra o marido. "Muitas
vêm aqui só para obter informações. Algumas até me pedem para
conversar com o marido", diz a
delegada Márcia Salgado.
E registrar queixa não representa, necessariamente, processar o
agressor. A aprovação da lei
9.099/95 mudou a rotina nos Juizados Especiais. As agredidas passaram a ter a opção de voltar atrás
nas denúncias.
Antes, a partir de uma denúncia, o caso obrigatoriamente se
tornava um processo criminal e o
agressor deveria ser julgado.
"Muitas usam a denúncia na esperança de amedrontar o marido
e depois se arrependem", diz.
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