|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RISCO DOMÉSTICO
Pesquisas revelam proximidade entre vítimas e agressores; apenas 14% dos crimes sexuais são denunciados
Violência contra mulher é maior em casa
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
A violência contra a mulher é
um fenômeno que está acima de
raça, condição social ou instrução, cuja principal característica
revela ainda o seu caráter cruel: o
agressor geralmente é parceiro da
vítima.
Essas particularidades são ressaltadas por duas recentes pesquisas de âmbito nacional, Vitimização 2002 e A Mulher Brasileira
nos Espaços Público e Privado.
Essa última traz um dado alarmante: 43% das mulheres brasileiras já foram vítimas de violência psicológica, física ou sexual.
A pesquisa de Vitimização 2002,
divulgada na semana passada,
mostra que 33% das mulheres
agredidas fisicamente foram atacadas em casa e 30%, nos arredores. O agressor era o companheiro
para 43% daquelas que conheciam o autor do crime. Em casos
de agressão sexual, que inclui
comportamento ofensivo e estupro, 25% das vítimas conheciam o
agressor pelo nome.
De acordo com a socióloga Marisol Recaman, apesar de o perfil
da mulher brasileira ser muito diverso, identifica-se um traço comum nas questões relativas à violência. "É assustador, há violência
em todas as classes sociais", diz
Marisol, que coordenou a pesquisa A Mulher Brasileira.
"As diferenças mais importantes são em relação às pessoas criadas na cidade ou no campo. As
mulheres criadas no campo têm
taxas um pouco maiores de violência. Elas estão mais submetidas, de uma forma geral, ao homem", afirma a pesquisadora.
Em relação à escolaridade, 13%
das entrevistadas que sofreram
agressão física têm nível superior.
Para aquelas com escolaridade
entre a primeira e a quarta série, a
porcentagem é 26%.
Limite
"Atendo uma dentista e uma assistente social que são de classe
média", relata Maria Elisa Braga,
assistente social da casa Eliane de
Grammont, que dá orientação e
acompanhamento para mulheres
vítimas de violência há 12 anos.
Geralmente, a procura por ajuda ocorre depois de várias agressões. "A mulher nos procura
quando chega no limite, no momento em que começa a ficar
doente ou quando a ameaça se estende aos filhos", conta.
O número de queixas dos agressores, segundo a pesquisa de vitimização, é muito baixo. Entre as
vítimas de agressão sexual, apenas 14% notificaram o crime.
Nas 125 delegacias de defesa da
mulher do Estado, o número de
denúncias no primeiro semestre
de 2002 aumentou em relação ao
mesmo período do ano anterior.
No primeiro semestre de 2001,
foram registrados 37.116 casos de
ameaça e 42.890 de lesão corporal
dolosa (quando há intenção). No
mesmo período deste ano, os números foram 42.852 e 44.695, respectivamente. A partir deste ano,
os casos que envolvem menores
de 18 anos são computados separadamente.
Metodologias
Realizada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, pela FIA-USP (Fundação Instituto de Administração da Universidade de
São Paulo) e pelo Ilanud (Instituto Latino Americano das Nações
Unidas para a Prevenção do Delito e o Tratamento do Delinquente), a pesquisa Vitimização 2002
aborda vários tipos de crimes, entre eles roubo e agressão.
O universo é de 2.800 pessoas,
de ambos os sexos e com idade
superior a 16 anos, de quatro capitais -São Paulo, Rio, Recife e Vitória. As entrevistas foram feitas
durante os meses de abril e maio
de 2002.
A pesquisa A Mulher Brasileira
nos Espaços Público e Privado entrevistou 2.502 mulheres maiores
de 15 anos de 187 cidades do país,
em outubro de 2001. O trabalho,
feito pela Fundação Perseu Abramo, traça um perfil das entrevistadas sobre tópicos como violência, trabalho, saúde, educação etc.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Especialistas criticam legislação Índice
|