São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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RISCO DOMÉSTICO

Pesquisas revelam proximidade entre vítimas e agressores; apenas 14% dos crimes sexuais são denunciados

Violência contra mulher é maior em casa

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

A violência contra a mulher é um fenômeno que está acima de raça, condição social ou instrução, cuja principal característica revela ainda o seu caráter cruel: o agressor geralmente é parceiro da vítima.
Essas particularidades são ressaltadas por duas recentes pesquisas de âmbito nacional, Vitimização 2002 e A Mulher Brasileira nos Espaços Público e Privado. Essa última traz um dado alarmante: 43% das mulheres brasileiras já foram vítimas de violência psicológica, física ou sexual.
A pesquisa de Vitimização 2002, divulgada na semana passada, mostra que 33% das mulheres agredidas fisicamente foram atacadas em casa e 30%, nos arredores. O agressor era o companheiro para 43% daquelas que conheciam o autor do crime. Em casos de agressão sexual, que inclui comportamento ofensivo e estupro, 25% das vítimas conheciam o agressor pelo nome.
De acordo com a socióloga Marisol Recaman, apesar de o perfil da mulher brasileira ser muito diverso, identifica-se um traço comum nas questões relativas à violência. "É assustador, há violência em todas as classes sociais", diz Marisol, que coordenou a pesquisa A Mulher Brasileira.
"As diferenças mais importantes são em relação às pessoas criadas na cidade ou no campo. As mulheres criadas no campo têm taxas um pouco maiores de violência. Elas estão mais submetidas, de uma forma geral, ao homem", afirma a pesquisadora.
Em relação à escolaridade, 13% das entrevistadas que sofreram agressão física têm nível superior. Para aquelas com escolaridade entre a primeira e a quarta série, a porcentagem é 26%.

Limite
"Atendo uma dentista e uma assistente social que são de classe média", relata Maria Elisa Braga, assistente social da casa Eliane de Grammont, que dá orientação e acompanhamento para mulheres vítimas de violência há 12 anos.
Geralmente, a procura por ajuda ocorre depois de várias agressões. "A mulher nos procura quando chega no limite, no momento em que começa a ficar doente ou quando a ameaça se estende aos filhos", conta.
O número de queixas dos agressores, segundo a pesquisa de vitimização, é muito baixo. Entre as vítimas de agressão sexual, apenas 14% notificaram o crime.
Nas 125 delegacias de defesa da mulher do Estado, o número de denúncias no primeiro semestre de 2002 aumentou em relação ao mesmo período do ano anterior.
No primeiro semestre de 2001, foram registrados 37.116 casos de ameaça e 42.890 de lesão corporal dolosa (quando há intenção). No mesmo período deste ano, os números foram 42.852 e 44.695, respectivamente. A partir deste ano, os casos que envolvem menores de 18 anos são computados separadamente.

Metodologias
Realizada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, pela FIA-USP (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo) e pelo Ilanud (Instituto Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e o Tratamento do Delinquente), a pesquisa Vitimização 2002 aborda vários tipos de crimes, entre eles roubo e agressão.
O universo é de 2.800 pessoas, de ambos os sexos e com idade superior a 16 anos, de quatro capitais -São Paulo, Rio, Recife e Vitória. As entrevistas foram feitas durante os meses de abril e maio de 2002.
A pesquisa A Mulher Brasileira nos Espaços Público e Privado entrevistou 2.502 mulheres maiores de 15 anos de 187 cidades do país, em outubro de 2001. O trabalho, feito pela Fundação Perseu Abramo, traça um perfil das entrevistadas sobre tópicos como violência, trabalho, saúde, educação etc.


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