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Construtoras criam obras de R$ 15,6 bi para vender a SP
Plano viário tem 200 propostas para "servir de orientação" aos candidatos à prefeitura
Pacote abrange túneis, pontes, viadutos e avenidas; para especialistas, sugestões contrariam prioridade ao transporte coletivo
ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Algumas das principais construtoras do país criaram um
plano de 200 obras viárias na
cidade de São Paulo, ao custo
estimado de R$ 15,6 bilhões,
com a ambição de "servir de
orientação às equipes dos candidatos" à prefeitura e de influenciar as decisões do poder
público nos próximos anos.
Tratado como um banco de
projetos para atenuar os gargalos do trânsito, abrange intervenções polêmicas, como a
construção de um complexo de
R$ 884 milhões com túneis no
Morumbi e outro de R$ 254 milhões entre a rodovia Raposo
Tavares e a marginal Pinheiros.
A estratégia do estudo contratado pelo sindicato que reúne as empreiteiras no Estado,
na prática, é deixar as sugestões
na prateleira para acelerar a tomada de decisões por novas
obras de interesse direto da indústria da construção pesada.
O plano das construtoras é
intitulado "São Paulo por um
trânsito melhor". Na avaliação
de cinco especialistas ouvidos
pela Folha, a proposta de expansão da malha viária principalmente voltada para os carros vai na contramão da necessidade de restrição ao transporte individual e de prioridade ao coletivo.
Embora haja propostas de
corredores e terminais de ônibus, a dimensão de investimentos direcionada para essa
área se limita a 28% do total.
O custo para tirar todas as
obras do papel é suficiente para
construir de 80 a 100 km de
metrô, o que mais que dobraria
a rede atual, de 61,3 km.
O Sinicesp (sindicato da
construção pesada), contratante do estudo, tem em sua diretoria representantes de empreiteiras como OAS, Queiroz
Galvão e Camargo Corrêa. Na
semana passada, já começou a
contatar as equipes dos principais candidatos a prefeito para
agendar a entrega do plano.
Técnicos entrevistados consideram que, no trabalho, há
obras defensáveis, embora insuficientes para compensar a
entrada superior a mil novos
veículos por dia nas ruas. E
avaliam ser grande a possibilidade de as apostas das construtoras serem usadas como diretrizes no município.
Primeiro, devido ao apelo
popular que, desde as últimas
décadas, estimula a realização
de intervenções favoráveis aos
carros -apesar das críticas. Segundo, pela falta de projetistas
do município e pelo poder de
influência das empreiteiras,
segmento que costuma financiar campanhas eleitorais de
diversos partidos.
Profissionais ligados ao Executivo e às construtoras relatam que algumas das principais
obras viárias já feitas ou em
discussão foram precedidas de
sugestões das próprias empresas. Ou seja, a iniciativa das
empreiteiras de propor as intervenções de seu interesse
sempre existiu, mas nunca de
forma tão ampla e detalhada.
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