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Para técnicos, pacote contraria prioridade a transporte coletivo
Ampliar sistema viário vai na contramão de tendência defendida por especialistas em planejamento urbano e de transportes
Para eles, prioridade
deve ser um "plano de mobilidade", com investimentos em metrô e integração com ônibus
DA REPORTAGEM LOCAL
Investir na ampliação do sistema viário, privilegiando os
carros, vai na contramão da
idéia de priorizar o transporte
coletivo, tendência defendida
por especialistas em planejamento urbano e de transportes
consultados pela Folha.
"Se a obra for para atender os
ônibus, tudo bem. Se não, está
na contramão da história", afirma Horácio Figueira, consultor
de transportes.
"Não vai ter dinheiro para fazer tudo. Vão acabar escolhendo 20 viadutos e fazendo 0,5
km de corredor [para ônibus].
E a cidade vai continuar parada", afirma.
Para os especialistas, a ampliação do viário reanima o incentivo ao uso do automóvel
-o que é uma "falsa ilusão", segundo o professor do departamento de transportes da USP
Claudio Barbieri.
Entre cinco e dez anos, diz
ele, a tendência é de volta dos
congestionamentos, mesmo
com as obras.
"É o projeto dos sonhos para
quem tem carro. Mas será que,
para a sociedade, é a melhor
maneira de resolver o problema do deslocamento urbano?",
questiona.
"Novas vias só estimulam as
pessoas a morarem longe do
trabalho, o que aumenta a
quantidade de viagens. E em
pouco tempo essas vias vão estar congestionadas."
Para os especialistas, porém,
algumas obras, como a ligação
entre a marginal Pinheiros e a
rodovia dos Imigrantes, e pontes interligando os dois lados
das marginais seriam desejáveis -embora não prioritárias.
Professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, Raquel Rolnik diz
que a falta de um "plano de mobilidade" transforma a expansão viária de São Paulo em uma
"colcha de retalhos", refém de
projetos de empreiteiras "e não
do interesse do cidadão".
"Não poria um centavo nessas obras. Colocaria tudo em
transporte sobre trilhos e integração com ônibus", diz Rolnik.
Boom imobiliário
Pedro Taddei Neto, professor de planejamento urbano da
FAU-USP, não vê problema no
fato de as empreiteiras proporem idéias.
"A prefeitura é que não pode
perder sua capacidade de planejar a cidade e antever soluções", pondera.
A adoção do pacote, diz Taddei, provocaria um boom imobiliário nas áreas contempladas pelas obras, o que aumentaria a densidade demográfica -e
resultaria, novamente, em congestionamentos.
(RICARDO SANGIOVANNI)
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