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Infra-estrutura preocupa ambientalistas
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o assunto é a segunda
pista da Imigrantes e o potencial
aumento de população que ela
pode levar à Baixada Santista, cinco fatores preocupam os ambientalistas:
1) Uma produção de resíduos
domésticos de 814 toneladas por
dia (segundo a Cetesb, a agência
ambiental paulista), das quais 680
vão para lixões, sem tratamento;
2) Em média, 67% das casas são
ligadas à rede de esgoto, abaixo da
média de 81% do Estado de São
Paulo, segundo o IBGE;
3) Cerca de metade do esgoto
gerado é lançado in natura, principalmente no mar;
4) Um total de 7.000 famílias
mora irregularmente dentro do
Parque Estadual da Serra do Mar,
maior remanescente de mata
atlântica do Estado, e mais alguns
milhares em favelas sobre mangues e encostas;
5) O fornecimento de água, apesar de chegar a quase 100% da população, não resiste à conjunção
de estiagem e maior consumo.
Para os especialistas, a obra viária, tida como ambientalmente
correta, deverá, depois de concluída, agravar ainda mais os já
complicados problemas de infra-estrutura de saneamento e habitação nas cidades do litoral sul.
As consequências serão sentidas principalmente na balneabilidade das praias, na poluição de
rios e córregos, na quantidade e
qualidade da água e na destruição
progressiva de áreas de proteção
ambiental.
"Podemos acabar matando
nossa galinha dos ovos de ouro
porque nenhum turista ou futuro
morador vai querer uma praia suja ou onde falte água", diz Condesmar Fernandes de Oliveira,
presidente da ONG Movimento
em Defesa da Vida, que atua na
Baixada.
Água e esgoto
Nas temporadas de verão, há
falta de água em cidades como
São Vicente, Guarujá e Praia
Grande. "E o problema é pior para as pessoas que moram longe da
orla", diz Oliveira. Ele afirma ainda que estudos mostram a contaminação de peixes de água salgada por causa do esgoto despejado
no mar.
"O poder público aprovou a segunda pista e agora vai ter de encarar a pressão por melhorias nos
serviços de saneamento", afirma
Maurício Moura, diretor do Cave
(Coletivo Alternativa Verde).
A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo) diz estar preparada
para a demanda. Para superar "o
déficit histórico" do litoral, a empresa investiu R$ 500 milhões na
Baixada nos últimos sete anos.
O plano é gastar também cerca
de R$ 311 milhões na viabilização
de um novo sistema de abastecimento centrado no rio Branco,
em Itanhaém, que aumentaria a
capacidade de produção para a cidade e para Praia Grande, Mongaguá e Peruíbe em 1.100 l/s.
População
Embora esteja baseando seu
plano de investimentos num crescimento populacional de 4% ao
ano (projeção do IBGE e da Fundação Seade), a Sabesp tem uma
expectativa de que essa taxa chegue a 7% com a segunda pista da
Imigrantes.
Na área de esgoto, aposta no
Programa de Recuperação Ambiental da Baixada Santista. Com
US$ 250 milhões, sendo US$ 150
milhões do banco japonês JBIC, o
projeto deve, até 2005, elevar o índice de tratamento de esgoto para
95% em Cubatão, Praia Grande,
Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe,
Bertioga e Guarujá.
A exemplo do que ocorreu com
a Anchieta e com a primeira pista
da Imigrantes, há a possibilidade
de que operários da segunda pista
permaneçam na Baixada quando
terminarem as obras, em favelas
ou nos "bairros-cota" (ocupações
que ficam no lugar dos canteiros e
estão em áreas altas e inclinadas).
"A Ecovias contratou até segurança particular para impedir a
construção nas encostas, mas não
dá para garantir que ninguém invadiu", diz Hélio Ogawa, engenheiro do Instituto Florestal que
integra o GTR (grupo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente
que acompanha toda a obra).
Ele diz que a preocupação com a
pressão populacional sobre a região do Parque Estadual da Serra
do Mar existia desde o primeiro
licenciamento da obra, feito em
1989. Percorrendo todo o litoral
sul, o parque é o maior remanescente de mata atlântica do Estado.
Compensações
Por conta disso, entre as compensações ambientais previstas
para a construção da segunda pista (que incluem o replantio de 2
km2 de mata nativa) está a destinação de 2% do seu valor (cerca
de R$ 10,5 milhões) para infra-estrutura, fiscalização e monitoramento do parque. Outros R$ 10,5
milhões serão usados na construção de casas para cerca de 500 famílias que vivem na área.
Em relação ao lixo, a Baixada
deve passar a ter um novo aterro
sanitário em 2003, o Sítio das Neves, em Santos, mas ainda não há
data marcada para o início das
operações.
(MARIANA VIVEIROS)
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