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AMBIENTE
Atividade predatória pode esgotar fontes de alimentação de baleias e golfinhos no parque da Laje, no litoral sul de SP
Pesca ameaça reserva marinha de Santos
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
A pesca predatória e a fiscalização escassa ameaçam esgotar as
fontes de alimentação de baleias,
golfinhos e tartarugas e estão colocando em risco o ecossistema
do principal santuário ecológico
marítimo do litoral paulista.
A 40 km da costa, o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos é
alvo do assédio de barcos pesqueiros e de praticantes de caça
submarina e pesca esportiva, segundo a própria administração
do parque, o Ministério Público e
operadores de mergulho.
Além das evoluções de baleias e
golfinhos, é possível apreciar entre os parcéis (formações rochosas submersas) arraias, polvos, estrelas-do-mar e variadas espécies
de peixes. Na base das lajes (rochas que afloram à superfície) habitam e fazem seus ninhos diferentes tipos de aves.
Em nome da conservação, o decreto estadual que criou o parque,
em 1993, impôs restrições às atividades na área, que não tem nenhum tipo de sinalização e está
demarcada só em cartas náuticas.
Na prática, a única atividade
permitida é o mergulho e a visitação para fins contemplativos. A
pesca, mesmo com uma simples
varinha, é considerada crime ambiental. Também não é permitido
subir nos rochedos ou lançar âncora sobre o fundo de corais.
Mas operadores de mergulho
dizem presenciar com frequência
a pesca indiscriminada no local.
"Há barcos que levam pessoas
para lá exclusivamente para pescar, e elas chegam a voltar com
300, 350 quilos de peixe. Além disso, tem o cara que nada até as pedras e espanta as aves", afirma
João Paulo Scola, há cinco anos
operador de mergulho no parque.
"A incidência maior é de embarcações de pesca esportiva, mas
encontramos muitos barcos pesqueiros ancorados próximo às
pedras. Eles jogam latas, caixinhas de leite e todo tipo de lixo no
mar", disse Moacyr Teófilo de
Abreu Figueiredo, instrutor de
mergulho que há 20 anos frequenta a laje semanalmente.
Em agosto, dois iates foram autuados pescando com varas na
área da laje durante uma das raras
operações conjuntas de fiscalização das polícias Ambiental, Federal e da Marinha. Neste mês, um
instrutor de mergulho formalizou
queixa contra barcos pesqueiros à
Ouvidoria da Secretaria Estadual
do Meio Ambiente.
O dano ambiental mais grave,
porém, é provocado pela chamada "pesca de arrasto", praticada
com redes e capaz de arrebanhar
cardumes inteiros.
"O que a gente tem é um parque
no papel. Até hoje, não há um plano de manejo, e a Polícia Ambiental não possui sequer um barco
para fiscalizar", declarou Ana
Paula Fernandes Nogueira da
Cruz, promotora do Meio Ambiente em Santos.
A diretora do parque, a oceanógrafa e bióloga Mabel Augustowski, diz receber pelo menos uma
denúncia mensal de pesca irregular, mas não pode verificar. "Temos uma grande deficiência de
recursos. Não possuímos embarcação própria e, para fazer a fiscalização, dependemos da Polícia
Ambiental", afirmou.
Cedida pelo Instituto Florestal
para a Polícia Ambiental, a embarcação Mirassol, de 40 pés, está
parada há mais de um ano em um
estaleiro no Guarujá, à espera do
repasse pelo Estado dos R$ 20 mil,
necessários para concluir a reforma. Quando estiver consertado, o
barco será empregado prioritariamente em operações na laje, informou o tenente Wantuil Andrade, do 3º Batalhão de Polícia Ambiental, responsável por todo o litoral paulista e pelos vales do Ribeira e do Paraíba.
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