São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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EDUCAÇÃO

Hoje, 34 alunos de origem indígena tentam vaga na PUC-SP; no ano passado, 26 foram aprovados

Projeto dá bolsa para índio fazer faculdade

ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Avelino dos Santos, 38, abandonou sua aldeia no interior de Pernambuco em 1995 e veio para São Paulo tentar uma vida melhor. Agora, depois de ficar sem estudar por dez anos, irá fazer vestibular para a PUC-SP. Além dele, outros 33 estudantes de origem indígena e histórias parecidas irão tentar uma vaga na universidade hoje.
Caso sejam aprovados, eles têm a chance de receber bolsa integral, por meio do projeto Pindorama, que surgiu no final do ano passado, em uma parceria entre a PUC-SP e a Pastoral Indigenista da Arquidiocese de São Paulo e associações representativas das comunidades indígenas. No vestibular do ano passado, 28 índios se inscreveram e 26 foram aprovados.
"São só oito bolsas dadas pela universidade, mas nós estamos tentando achar outras formas de financiamento [caso o número de aprovados seja maior do que oito]. Uma das idéias é que colégios católicos adotem estudantes indígenas", disse Benedito Prezia, coordenador da Pastoral Indigenista. As taxas de inscrição do vestibular (R$ 100 cada uma) foram pagas pela arquidiocese.
Como no ano passado, neste vestibular, a maioria dos índios é pankararu, como Luiz Avelino dos Santos. Apesar da aldeia ser em Pernambuco, os pankararus começaram a migrar para São Paulo na década de 50 e já são cerca de 950 pessoas -a maioria vive em favelas da capital paulista.

Preparação
Para compensar os anos longe da escola e a formação na rede pública de ensino, a maioria dos vestibulandos de origem indígena assiste às aulas no Cursinho da Poli, pré-vestibular comunitário em que eles têm bolsa de estudo.
Uma das que estão se preparando no cursinho é a pankararu Maria Edileuza de Jesus Souza, 38, que veio de Pernambuco aos oito anos. Ela, entretanto, só pode assistir às aulas aos sábados. "Além de trabalhar fora, tenho de cozinhar, lavar roupa e fazer os outros serviços da casa. Pegar nos livros mesmo, só depois do jantar e aos domingos", disse ela, que trabalha como agente comunitária de saúde e tentará uma vaga no curso de pedagogia.
Hoje, Santos trabalha como carteiro e, como Souza, também desistiu de frequentar o cursinho diariamente. "Demorava pelo menos duas horas para chegar em casa. Só conseguia ir dormir depois da meia-noite e tenho de acordar cedo." Como Souza, ele pretende dar aulas para a comunidade depois de se formar no curso de letras. Outra que quer ser professora após se formar é Cátia Martim Pereira, 20, que entrou no curso de letras no ano passado. Um dos objetivos do projeto é justamente que os alunos atuem na comunidade após formados.
Para as despesas com o curso, a Funai (Fundação Nacional do Índio) fornece uma ajuda de R$ 150 para cada um dos estudantes.


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