|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Hoje, 34 alunos de origem indígena tentam vaga na PUC-SP; no ano passado, 26 foram aprovados
Projeto dá bolsa para índio fazer faculdade
ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Luiz Avelino dos Santos, 38,
abandonou sua aldeia no interior
de Pernambuco em 1995 e veio
para São Paulo tentar uma vida
melhor. Agora, depois de ficar
sem estudar por dez anos, irá fazer vestibular para a PUC-SP.
Além dele, outros 33 estudantes
de origem indígena e histórias parecidas irão tentar uma vaga na
universidade hoje.
Caso sejam aprovados, eles têm
a chance de receber bolsa integral,
por meio do projeto Pindorama,
que surgiu no final do ano passado, em uma parceria entre a PUC-SP e a Pastoral Indigenista da Arquidiocese de São Paulo e associações representativas das comunidades indígenas. No vestibular do
ano passado, 28 índios se inscreveram e 26 foram aprovados.
"São só oito bolsas dadas pela
universidade, mas nós estamos
tentando achar outras formas de
financiamento [caso o número de
aprovados seja maior do que oito]. Uma das idéias é que colégios
católicos adotem estudantes indígenas", disse Benedito Prezia,
coordenador da Pastoral Indigenista. As taxas de inscrição do vestibular (R$ 100 cada uma) foram
pagas pela arquidiocese.
Como no ano passado, neste
vestibular, a maioria dos índios é
pankararu, como Luiz Avelino
dos Santos. Apesar da aldeia ser
em Pernambuco, os pankararus
começaram a migrar para São
Paulo na década de 50 e já são cerca de 950 pessoas -a maioria vive em favelas da capital paulista.
Preparação
Para compensar os anos longe
da escola e a formação na rede pública de ensino, a maioria dos vestibulandos de origem indígena assiste às aulas no Cursinho da Poli,
pré-vestibular comunitário em
que eles têm bolsa de estudo.
Uma das que estão se preparando no cursinho é a pankararu Maria Edileuza de Jesus Souza, 38,
que veio de Pernambuco aos oito
anos. Ela, entretanto, só pode assistir às aulas aos sábados. "Além
de trabalhar fora, tenho de cozinhar, lavar roupa e fazer os outros
serviços da casa. Pegar nos livros
mesmo, só depois do jantar e aos
domingos", disse ela, que trabalha como agente comunitária de
saúde e tentará uma vaga no curso de pedagogia.
Hoje, Santos trabalha como carteiro e, como Souza, também desistiu de frequentar o cursinho
diariamente. "Demorava pelo
menos duas horas para chegar em
casa. Só conseguia ir dormir depois da meia-noite e tenho de
acordar cedo." Como Souza, ele
pretende dar aulas para a comunidade depois de se formar no
curso de letras. Outra que quer ser
professora após se formar é Cátia
Martim Pereira, 20, que entrou no
curso de letras no ano passado.
Um dos objetivos do projeto é justamente que os alunos atuem na
comunidade após formados.
Para as despesas com o curso, a
Funai (Fundação Nacional do Índio) fornece uma ajuda de R$ 150
para cada um dos estudantes.
Texto Anterior: Procura aumenta no fim do ano Próximo Texto: PUC-SP e FGV fazem processo seletivo hoje Índice
|