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Projetos para a Vila Cruzeiro ficam no papel
TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quase nove meses depois do assassinato do repórter Tim Lopes,
da Rede Globo, a maioria dos projetos sociais anunciados para a favela da Vila Cruzeiro (zona norte
do Rio), onde ele foi capturado
por traficantes, não saiu do papel
ou funciona de maneira precária.
Os anúncios feitos na época pelos governos estadual e municipal, por organizações não-governamentais (ONGs) e pela iniciativa privada tinham o objetivo da
diminuir a influência do tráfico de
drogas não somente na vila, mas
em toda área dos complexos de
favelas do Alemão e da Penha, onde vivem cerca de 120 mil pessoas.
Tim Lopes foi sequestrado na
noite do dia 2 de junho, quando
fazia uma reportagem sobre prostituição de menores em bailes
funk. Ele foi torturado e assassinado na vizinha favela da Grota, já
no complexo do Alemão.
Um dos projetos anunciados na
gestão da governadora Benedita
da Silva (PT) foi a instalação de
um grupamento policial para melhorar o relacionamento entre a
polícia e as comunidades.
O grupamento foi inaugurado
em setembro, na Vila Cruzeiro.
Cinco meses depois, no entanto,
não funciona como deveria, segundo seu comandante, major
Lucídio Vasconcelos. Os 113 policiais -treinados em "estratégia
de polícia comunitária"- nunca
tiveram reuniões com moradores.
"O grupamento era para vir a
reboque de uma ação conjunta do
Estado com ONGs e empresas
privadas, para não ser mais uma
ocupação policial", disse.
O presidente da Associação de
Moradores da Vila Cruzeiro, Antônio Tibúrcio, 32, disse ter participado de várias reuniões. "Eu tenho um banco de dados de promessas: posto de saúde, cursos
pré-vestibular e de capacitação
profissional, mas nada chegou.
Fomos mais uma vez enganados",
afirmou Tibúrcio.
Com a exceção de um programa
de capacitação profissional da Secretaria do Trabalho, que oferece
30 vagas, nenhum projeto permanente foi instalado nos dois complexos. Durante dois dias, em
agosto, ocorreu um mutirão de
secretarias estaduais para a emissão de documentos, consultas
médicas e cadastramento em um
banco de oferta de trabalho.
Para Tibúrcio, só uma nova
ocorrência grave fará os governos
voltarem a dar atenção ao bairro.
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