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CÉU CONGESTIONADO
Aeronaves terão de pedir autorização para voar em área de 102 km2 perto do aeroporto de Congonhas
Tráfego de helicóptero será controlado em SP
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Traffic. Traffic."
"Climb. Climb."
Palavras como essas -emitidas
pelos computadores de bordo das
aeronaves- têm sido ouvidas
com uma freqüência cada vez
maior nas cabines dos aviões que
se aproximam para pousar no aeroporto de Congonhas. Em inglês, indicam que o sistema de segurança do vôo detectou um corpo em rota de colisão com a aeronave, sugerindo que o comandante inicie uma manobra de fuga -
"climb" significa subir, escalar.
O corpo em questão é, na esmagadora maioria das vezes, um helicóptero que sobrevoa os distritos de Pinheiros, Moema, Itaim
Bibi ou Morumbi. E a manobra de
fuga só não acontece com mais
freqüência porque, habituados a
pousar em Congonhas, os pilotos
deixam de lado as normas internacionais de aviação, olham pela
"janelinha" do avião, vêem o helicóptero e seguem a aterrissagem.
É para evitar que essa situação
evolua para um cenário mais grave que o Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo
(SRPV-SP), órgão ligado ao Comando da Aeronáutica, passará a
controlar o deslocamento de helicópteros no sudoeste da capital.
"Temos casos como esse pelo
menos uma vez por semana", estima o capitão-aviador Carlos Alberto de Mattos Bento, 34, chefe
do serviço de prevenção de acidentes de São Paulo. "E não podemos esperar uma tragédia para
agir. A aviação tem de se antecipar aos fatos", completa o comandante Carlos Artoni, 47, presidente da Associação dos Pilotos de
Helicóptero do Estado, que participou da elaboração das medidas.
Pelas novas regras, para trafegar
numa área de 102 km2 -delimitada pelo estádio do Morumbi, a
avenida Paulista, a ponte do Jaguaré e o aeroporto de Congonhas (veja mapa na pág. C3)- os
pilotos de helicóptero passarão a
ser obrigados a pedir autorização
para um controlador de vôo. A liberação será necessária para decolar de dentro do quadrilátero,
pousar na área ou cruzar a região.
"Hoje, alguns [piloto de helicóptero] até tentam contato, mas
há dificuldade, pois não temos
posições para atender a todos",
afirma o tenente-coronel Valter
Heitor Cadore, 50, chefe do controle do espaço aéreo paulista.
A medida é inédita. Nem os pilotos nem a Aeronáutica têm notícia de haver em algum lugar do
mundo uma área na qual o vôo de
helicópteros seja controlado nem
de existir um local que tenha escalado um operador especialmente
para coordenar essas aeronaves.
Com publicação prevista para o
próximo dia 13, a regra entrará
em vigor em 10 de junho. Até lá,
20 controladores terão sido treinados para ocupar o posto.
Congestionamento aéreo
O aeroporto de Congonhas tem
duas pistas de pouso -a 17 e a 35,
cujos nomes fazem referência à
posição de ambas em relação ao
norte magnético do planeta.
As aeronaves com pouso previsto para a pista 35 devem iniciar
a aproximação por Diadema. As
que aterrissam na pista 17 começam o procedimento pela Vila
Madalena -distante 11,1 km do
aeroporto-, ponto a partir do
qual desenham uma rampa imaginária até o solo de Congonhas.
A área na qual a Aeronáutica vai
controlar o vôo de helicópteros
refere-se exatamente a esse segundo trecho -da Vila Madalena até Congonhas, avançando 4,6
km para cada um dos lados.
É pela pista 17 que se dão 80%
dos pousos do aeroporto, devido
à direção dos ventos. Ao mesmo
tempo, porém, em sua área de
aproximação estão 106 dos 182
helipontos com operação autorizada pela Aeronáutica na capital.
São locais movimentados. Num
teste de monitoramento feito pelo
SRPV na véspera do Carnaval,
350 operações de helicóptero foram registradas na região.
Segurança e conforto
Além de demarcar a área de
controle, a Aeronáutica criou
dentro dela quatro novas rotas de
helicóptero -hoje, são 17 em toda a cidade. A idéia é que os pilotos conduzam as aeronaves por
esses trajetos imaginários. Atualmente, sem eles, os helicópteros
se movimentam livremente na região, cruzando, muitas vezes, o eixo de pouso dos aviões.
Nas rotas em questão haverá
ainda duas outras novidades que
visam, respectivamente, a segurança do vôo e o conforto dos moradores. A primeira fixa que, nos
trechos mais próximos ao eixo de
pouso do avião, os helicópteros
têm de se movimentar no mesmo
sentido que a aeronave principal e
paralelamente à sua rota. Assim,
os instrumentos de bordo não
apontam risco de colisão.
A segunda norma fixa altitudes
de vôo para os helicópteros de até
3.500 pés no quadrilátero -o
maior índice da cidade. Os limites
foram empurrados ao máximo
-mantendo apenas a distância
mínima vertical, de 500 pés (150
metros), entre helicópteros e
aviões- para diminuir o nível de
ruído para a população em terra.
"A tecnologia nos permite reduzir a distância entre as aeronaves,
pois diminui a margem de incerteza", afirma o coronel Luiz Cláudio Ribeiro da Silva, 44, chefe do
SRPV-SP. Ele admite que, ao criar
normas para o tráfego na região, o
SRPV passa a dividir com os pilotos a responsabilidade por eventuais acidentes naquele trecho.
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