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"Será que vou pegar muitos anos?"
DA REPORTAGEM LOCAL
Edson Leandro da Silva, 19, entrou no mundo dos sequestros
sem saber exatamente quais seriam as consequências disso.
"Será que vou pegar muitos
anos?", pergunta. Silva, que abandonou -por medo da cadeia e de
ser morto- a prática de roubo
(pena de quatro a dez anos de prisão) e o tráfico (de três a 15 anos),
nem imagina que está sujeito a
um pena maior pelo crime de sequestro (de oito a 15 anos), como
ele revela nesta entrevista.
Folha - Você não pensou que poderia ser preso?
Edson Leandro da Silva - Não. Só
pensei no lado bom.
Folha - Que lado bom?
Silva - Pensei que poderia conseguir dinheiro fácil. Não tinha risco
de ser preso ou morto. Pretendia
usar o dinheiro para ajudar a minha mãe e a minha filha.
Folha - De onde você tirou a idéia
de que seria fácil?
Silva - Vendo na televisão.
Folha - Mas a televisão também
mostra sequestradores sendo presos e mortos.
Silva - É. Pensei que fosse fácil. O
outro cara -um segundo homem que também cuidava do cativeiro- conseguiu fugir dos policiais pela janela. Eu estava dormindo quando a polícia chegou.
Ele está solto, eu estou aqui (preso). Era para vir um dinheiro, e estou aqui. Fazer o quê?
Folha - Como você se envolveu
nesse sequestro?
Silva - Eu recebi um telefonema
em casa. Perguntaram se eu queria ganhar um dinheiro, e eu disse
que sim.
Folha - Quem ligou?
Silva - Não sei. Algum amigo
meu deve ter me indicado para
ele. Só me disseram para ir a uma
casa e cuidar de um cara. Lá encontrei uma pessoa que eu não
conhecia, que me falou para vigiar
o refém, dar um lanche, levar ele
no banheiro, ir buscar comida.
Folha - Quanto você iria receber?
Silva - Ainda não estava nada
certo. Eu esperava receber de R$
5.000 a R$ 6.000 pelo serviço. Disseram para mim que o sequestro
iria dar bastante dinheiro.
Folha - Você sabia pelo menos
quem era o refém?
Silva - Só sabia que era um homem, mas não quem era. Quando
cheguei ao cativeiro, só me disseram o que eu tinha de fazer.
Folha - Você já foi convidado para
outros crimes?
Silva - Sim. Para traficar droga.
Folha - E você fez?
Silva - Um dia ou dois. Mas larguei porque fiquei com medo de
ser morto.
Folha - Como era?
Silva - Eu recebia R$ 1 por trouxinha de R$ 5 de maconha ou cocaína que conseguisse vender na
boca-de-fumo de um conhecido.
Folha - Você ganharia quanto?
Silva - Se tivesse ficado no esquema, acho que eu ganharia uns R$
900 por mês no tráfico.
Folha - E por que largou?
Silva - Qualquer desavença acaba em morte. Uma hora acaba
morrendo. Cresce o olho grande
em você, que está levantando rápido. A gente acaba morrendo
por causa da inveja.
Folha - Você desistiu por medo?
Silva - É. Fiquei com medo de
morrer. Era muito risco e não quis
mais isso.
Folha - Tentaram matar você?
Silva - A polícia chegou e pegou
um tanto de maconha, que valia
R$ 125. Paguei R$ 25 com o dinheiro que eu tinha, mas o gerente da boca [o que traz a droga e leva o dinheiro da venda" achou
que eu usei o resto da droga. Ele
me levou para um lugar e tentou
me matar. Mas eu corri. Ele deu
seis tiros e não acertou nenhum.
Não sei se ele é ruim de mira ou se
eu é que tenho sorte.
Folha - Como você saiu dessa?
Silva - Meu irmão me ajudou a
pagar a dívida. Ele me deu R$ 50 e
eu arrumei mais R$ 50. Só que ele
contou para minha mãe. Ela me
deu uma surra com uma mangueira de chuveiro.
Folha - Quando foi isso?
Silva - Há seis meses, mais ou
menos. Ela me dizia que não queria o meu mal. Ela me batia e chorava. Ela tem problema no coração. Todos da minha família trabalham. O meu irmão também
me bateu para que eu tomasse juízo na vida.
Folha - Parece que você não
aprendeu a lição.
Silva - É. Achei que não teria risco. Minha mãe deve estar muito
magoada comigo.
Folha - Antes do tráfico, você já tinha se envolvido em outro crime?
Silva - Eu fui convidado para
roubar carga. A gente chegou a ir
a uma firma, dez meses atrás. A
gente iria entrar na firma e esperar o carro-forte entregar o dinheiro do pagamento. Eu ficaria
vigiando os funcionários da firma
e os outros pegariam o dinheiro.
Só que tinha uma viatura da polícia na área e desistimos. Fiquei
com medo de ser preso e não quis
mais saber disso.
Folha - Mas não teve medo de se
envolver em sequestro...
Silva - Pensei que era só pegar,
telefonar, marcar e o dinheiro estaria na mão. Era mais fácil do que
roubar e traficar.
Folha - Você já teve emprego?
Silva - Já fui entregador de água
e de frutas. Já tentei trabalhar em
uma imobiliária de um amigo
meu, mas não consegui vender
nenhuma casa. Nada deu certo.
Será que vou pegar muitos anos?
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