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COMPORTAMENTO
Núcleos em bairros carentes de SP ajudam a combater o preconceito, além de organizar encontros para comunidade
Grupos dão visibilidade a gays da periferia
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
No próximo domingo, dia 9, a
periferia da zona leste de São Paulo terá o seu primeiro evento de
visibilidade gay. O Manifesto
GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e
transgêneros) do Itaim Paulista é
resultado do trabalho de um núcleo homossexual criado no distrito há menos de um ano que,
além de organizar encontros para
sua comunidade, trabalha pela diminuição do preconceito, resolução das demandas sociais e educação para a cidadania.
Na zona oeste de São Paulo, o
ator e professor de teatro Jucinério Felix Filho, 32, trilha o mesmo
caminho há três anos, desde que
assumiu o centro comunitário da
favela Vila Dalva.
No início, houve protesto de
mães que mantinham crianças na
creche do centro comunitário.
Hoje, porém, elas elogiam as melhorias que a gestão do grupo de
Jucinério trouxe.
O professor de teatro quitou as
dívidas com funcionários, liderou
a captação de benefícios de programas do governo e decidiu
abrir o salão do centro para todos
os eventos da comunidade local,
de aniversário a velório.
Jucinério também fundou o núcleo gay da favela. Ele deixou a associação há algumas semanas depois de ser eleito conselheiro tutelar do Butantã, função em que será responsável pela fiscalização da
aplicação do ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente) em toda a região. "Ser gay na periferia é
muito mais difícil pela falta de conhecimento que as pessoas têm."
Já o núcleo gay do Itaim Paulista
tem, por exemplo, ajudado a
orientar pais de jovens homossexuais que vivem na região.
A formação de núcleos gays
nesses locais é um fenômeno alavancado não apenas pelos grandes eventos de visibilidade, como
a 6ª Parada do Orgulho Gay que
sai hoje da avenida Paulista (região central de SP), como pela necessidade maior de engajamento
e mobilização social que a vida na
periferia exige, avaliam militantes
do movimento.
"O que eles fazem é uma coisa
revolucionária. Ganham espaço
em comunidades que vivem sob
tensão social", afirma Beto de Jesus, presidente da Parada do Orgulho Gay.
José Araújo Lima, integrante do
Fórum HSH (homens que fazem
sexo com homens), afirma que a
organização de núcleos gays fora
do eixo central "é uma estratégia
de sobrevivência".
"A violência tem se agravado,
há uma necessidade de organização. É a procura de um espaço para trocar", afirma ele.
Boom
O boom do movimento gay no
país ocorreu no início dos anos
90, impulsionado pela epidemia
de Aids. A doença recuou nos últimos anos, mas não entre homossexuais pobres da periferia.
Daí a origem de muitos dos núcleos gays em áreas pobres da cidade a partir de 1999, afirma Elias
Lilikan, pesquisador de estudos
homoeróticos da Universidade de
São Paulo (USP).
Foi nessa esteira que surgiu o
programa de rádio "Tarde do Babado", hoje veiculado eventualmente pela rádio comunitária da
favela de Heliópolis, na zona sul.
"Tentamos aglutinar as pessoas
com a mesma orientação, trazer
discussões sobre sexualidade.
Mas não foi fácil. Enfrentamos
piadinhas, agressões. Hoje me
respeitam como liderança comunitária", afirma Alexandre Antunes, um dos idealizadores do programa.
O projeto "Rompendo o Isolamento - Prevenção e Cidadania
na zona sul de São Paulo", financiado pelo Ministério da Saúde, é
outro exemplo. Nasceu dentro do
Centro de Testagem e Aconselhamento em Aids da prefeitura em
Santo Amaro, zona sul. As reuniões começaram com menos de
meia dúzia de pessoas. Hoje vinte
já frequentam os encontros que
ocorrem uma vez por semana.
Invisível
Luiz Ramires, 42, coordenador
do projeto, encontrou na região
uma comunidade gay dispersa e,
segundo ele, quase "invisível".
"Nossa perspectiva é criar um espaço de encontro, iniciar um processo de recuperação da auto-estima", afirma.
"Muitos aqui nunca tinham
participado de nenhuma atividade em um ambiente predominantemente homossexual. As reuniões são um espaço para convivência e orientação, mas não queremos criar um gueto", afirma o
coordenador do projeto.
No próximo dia 28, o grupo realiza sua primeira atividade de integração: uma festa junina aberta
a moradores do bairro.
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