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Bar de ex-PM tem até serviço vip para clientes
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma pequena rua residencial do Itaim Paulista, periferia da
zona leste de São Paulo, o ex-PM
Irineu Ribeiro, 40, abriu um discreto bar para o público gay. Sem
letreiro, o Berdaches (nome dado
pelos europeus a índios americanos que assumiam o papel do sexo oposto) é um sucesso entre o
público gay da região. Tem até um
serviço vip para alguns clientes,
que são buscados em casa.
Ribeiro faz as contas: para ir aos
bares gays do centro da cidade,
um morador da região não gasta
menos do que R$ 15 -isso se ficar a seco, sem tomar um refrigerante. "Os lugares aqui nos aceitavam, mas, na hora do beijo, vinha
a censura", conta.
Ribeiro lembra que recebeu
"um balde de água fria" do irmão
quando teve a idéia do bar. "Hoje
ele é meu sócio."
É na rua do bar que o Itaim Paulista fará seu primeiro manifesto
gay na próxima semana.
"Nunca houve um evento aqui
para dizermos somos gays, nós
existimos, queremos respeito",
diz Josué Paulino de Farias Filho,
32, um dos organizadores.
Os comerciantes não quiseram,
ainda, patrocinar a decoração do
evento. Com isso, a festa, afirma
Farias, não deverá ter as cores do
arco-íris que são o símbolo do
movimento gay.
"Sabemos que depois da festa a
concepção das pessoas será diferente", afirma. Estão programados shows de drag queens, palestras com lideranças do movimento, distribuição de camisinhas e
panfletos sobre prevenção à Aids.
Além de oferecer diversão e
educação, o núcleo gay do Itaim
Paulista tem ajudado a orientar
pais de jovens homossexuais que
vivem na região.
Na escola
"Dei uma respirada depois que
conheci os dois", diz uma dona-de-casa cujo filho, de 13 anos, homossexual, não quer ir à escola ou
conversar sobre o assunto. Ribeiro e Farias acompanham o caso
do menino. Informam a mãe sobre os seus passos e intermediaram uma reunião na escola para a
discussão do caso do garoto.
Foi a luta dos dois organizadores que também garantiu uma
quadra em uma escola do distrito
para lésbicas poderem disputar
um campeonato de futebol.
"Muitos aqui não têm acesso a
nada do que é oferecido pelo governo. Nós tentamos arrumar
emprego, reciclagem profissional
e passar alguma coisa sobre cidadania nas reuniões", afirma Roberto Bartolomeu, um dos fundadores da Associação de Gays, Lésbicas e Simpatizantes de Itaquera-São Miguel, também na periferia
da zona leste.
Um dos últimos acolhidos foi
um rapaz de 21 anos, expulso de
casa pelos pais por ser homossexual. Bartolomeu conseguiu um
emprego para o rapaz na loja de
um comerciante gay.
O núcleo gay da favela Vila Dalva recebe denúncias de preconceito e chega a interferir em algumas situações. Uma das piores foi
a briga entre um homossexual e
um usuário de drogas, que ameaçava jogar o oponente em uma fogueira. "Ele só não fez nada em
respeito a mim", diz o líder Jucinério Felix Filho.
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