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LUCIANA STEGAGNO PICCHIO (1920-2008)
O tesouro de Murilo Mendes em 80 caixas
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo dia, às 20h em ponto,
Luciana Stegagno Picchio
atendia o telefone. Do outro
lado da linha, era o poeta brasileiro Murilo Mendes quem
falava. Criaram esse hábito.
Quando a amiga a visitou
em Roma, ouviu a confidência: em 13 de agosto de 1975,
Luciana não soube o que fazer quando, às 20h, o telefone permaneceu calado. Murilo Mendes havia morrido.
Nascida em Alessandria,
na Itália, Luciana era professora de literatura portuguesa
e brasileira na Universidade
de Roma. Em 1957, viu Murilo chegar à faculdade de letras, aos 56 anos, para dar aulas de cultura brasileira.
O poeta de Juiz de Fora
(MG), que chegou a enviar
um telegrama a Hitler para
reclamar da invasão nazista à
Áustria e a abrir o guarda-chuva dentro do teatro em
protesto contra a desafinação do concerto, foi assistente de Luciana. Tornaram-se
grandes amigos.
Autora de mais de 500 textos sobre literatura em língua portuguesa, foi responsável pelo lançamento de
"Poesia Completa e Prosa",
do escritor. Em casa, deixou
um tesouro: 80 caixas com
originais e anotações do poeta, que ela, em vida, prometeu doar ao Brasil -onde esteve por várias vezes. Luciana era membro correspondente da ABL (Academia
Brasileira de Letras).
Em 2005, a amiga soube
que ela teve um AVC (acidente vascular cerebral). Sofria de isquemia. Em conseqüência das doenças, morreu
na quinta, aos 88, na Itália.
obituario@folhasp.com.br
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